O que há pra hoje?

POESIA COLABORATIVA
Suor. Espaço de exercício poético e livre escrita...

domingo, 30 de janeiro de 2011

Buá - uma onomatopéia de dor

Choro de bêbê.
Choro histérico e agudo. Ranhura de calundu.
Mas não há dengo, há dor.
Dorzinha miúda. Não sei onde encontrar.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Ele - delicado som de um Tricotilomaníaco

Havia naquela noite apenas o tímido som de sua delicadeza e de sua agonia. O barulho das teclas de um velho computador rangiam com os nervosos dedos de Dorian Gray - era esse seu nick - em ruidosas salas de chat na rede. Tratava-se de um moço de porte, garboso, cheio de predicados.
Impulsos incontroláveis. Ações inadvertidas. "Um Adonis que se diria feito de marfim e pétala de rosas".

Cansado da vida sensaborona Gray procrastinava a felicidade, sensação que parecia sempre clandestina. Lançava-se na rede anonimamente. Vendia-se como uma posta de carne ou peça rara de museu...
Moço, alto, forte, garboso, cheio de predicativos procura alguém para uma transa frouxa e nada mais.

Certa feita, depois de muitos descaminhos, ais e nãos, Gray decidiu arrancar de si felicidade. Marcou com um pretenso amor virtual um encontro no mundo sensível.
Na cama, Gray hesitou, titubeou, arrefeceu.
Passou a - na frente de seu pretenso parceiro sexual - arrancar os próprios fios de cabelo.
Por 24h Gray espetacularizou para seu amante a delicada arte de arrancar fios.

Deixou de sair de casa, passou a usar bonés e evitava ir à praia, piscina ou se dedicar a quaisquer outras atitudes em que se expunham as falhas do couro cabeludo.

E dizia para si mesmo - sempre e na frente de seu auto-retrato:

"Eu irei ficando velho, feio, horrível. Mas este retrato se conservará eternamente jovem. Nele, nunca serei mais idoso do que neste dia de junho... Se fosse o contrário! Se eu pudesse ser sempre moço, se o quadro envelhecesse!... Por isso, por esse milagre eu daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar em troca. Daria até a alma!"

Sempre diante de si. Sempre arrancando fios. Até que nada mais houvesse.

Gray era tricotilomaníaco...
e um bardo delicado...

* Homenagem a Oscar Wilde

Exercitando aliterações do tempo

O tempo transa...
Todo tempo o tempo muda,
o tempo trepa
a muda brota no tempo.
O tempo nos arrasta, e nos traga para trás, e deixa novos rastros, e gera passado, e cria memória.
O tempo a tudo transforma.
O tempo a tudo transforma mais gostoso.

O tempo nos atravessa.

Volta o tempo....
Volta o tempo....
Volta o tempo....

O tempo nos atravessa.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Gozo

Vou gozar depois de meu trampo. Gozo de canto e pranto.
Vou editar minhas memórias dos dias longos de jornada de trabalho duro, de serviço, de glória.
Depois de tudo enfim: fingir ser feliz.

Vou comprar uma destilada dose de coca-cola com o salário que eu for receber.
Usar meu salário na compra da porra da droga pra me entorpecer.

Faz algum sentido?
Já faz sentido pra eu poder ver?
Pra que tanto trabalho se não dá pra comprar felicidade na (da) tv.

Eis a prisão de ais das inquietações de se saber.
Essa prisão é o ordenado do caralho do trabalho que eu tenho que fazer.

07:00 - "Fon!!!"
(Hora de levantar. A usina já apitou.)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Inventário de 06 COISAS para compor cenas

(O ator deve propor ações físicas/vocais para traduzir imageticamente os estados que seguem):

Uma meia velha e sem par no fundo de um baú antigo. E velha, e estragada.

Uma boneca barbie antiga com o cabelo estragado e de um olho só. E só.

Um bem-te-vi mudo, torpe, torto e de asa quebrada. E torto.

Uma peteca rasgada e de uma pena só. E rasgada.

Uma faca cansada de cortar carne morta, mas cheia de perspectivas. E cansada.

Uma bola murcha, rasgada e gasta sentindo-se útil. Inutilmente.

"O que é bom pro lixo é bom pra poesia"*

*Manoel de Barros

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Vendi dor

Vendo todos os meus livros de Rimbaud.
Vendo mesmo.
Pretendo ficar vendo Rimbaud pela janela. dando-lhe um último adeus, sob a luz amarelada de qualquer pôr-do-sol vendedor.
Qualquer pôr-do-sol vende dor.

Com Por

Quero compor,
por junto, por dentro, por fora...
por fora, por perto, por ora...
Depois escolho o que fazer, pois componho agora... e urge...
Impossível resistir aos caprichos de compor...
Necessidade de compor!

São orações essas que invoco nos meus dias de trabalho/ritual.
Ladainhas devotadas harmonizadas a um mantra suado, ensaiado em delicadezas.
Um não, inúmeros deles, inúmeros mantras...
Mantras de compor
Com-por
Com-por
Com-por
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