Impulsos incontroláveis. Ações inadvertidas. "Um Adonis que se diria feito de marfim e pétala de rosas".
Cansado da vida sensaborona Gray procrastinava a felicidade, sensação que parecia sempre clandestina. Lançava-se na rede anonimamente. Vendia-se como uma posta de carne ou peça rara de museu...
Moço, alto, forte, garboso, cheio de predicativos procura alguém para uma transa frouxa e nada mais.
Certa feita, depois de muitos descaminhos, ais e nãos, Gray decidiu arrancar de si felicidade. Marcou com um pretenso amor virtual um encontro no mundo sensível.
Na cama, Gray hesitou, titubeou, arrefeceu.
Passou a - na frente de seu pretenso parceiro sexual - arrancar os próprios fios de cabelo.
Por 24h Gray espetacularizou para seu amante a delicada arte de arrancar fios.
Deixou de sair de casa, passou a usar bonés e evitava ir à praia, piscina ou se dedicar a quaisquer outras atitudes em que se expunham as falhas do couro cabeludo.
E dizia para si mesmo - sempre e na frente de seu auto-retrato:
"Eu irei ficando velho, feio, horrível. Mas este retrato se conservará eternamente jovem. Nele, nunca serei mais idoso do que neste dia de junho... Se fosse o contrário! Se eu pudesse ser sempre moço, se o quadro envelhecesse!... Por isso, por esse milagre eu daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar em troca. Daria até a alma!"
Sempre diante de si. Sempre arrancando fios. Até que nada mais houvesse.
Gray era tricotilomaníaco...
e um bardo delicado...
* Homenagem a Oscar Wilde
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