O que há pra hoje?

POESIA COLABORATIVA
Suor. Espaço de exercício poético e livre escrita...

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Badameco-eco

Dor quando a gente enterra,
Erra.

Pois surge sempre que a palavra
Lavra.

Dor não é coisa que se procure,
Cure.

Cuida do peito que inflama:
Ama.

Cuide para que a vida reverbere
Gere.


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

ZUNIDO DA MATA

(ou A sutil arte de controlcêvear)


Curupira é menino esperto,

só faz gol de calcanhar


Curupira é menino astuto.

Vigia a mata noite e dia.

- Ponho sabença no que quero! - diz ele.


Curupira é menino traquino

Mas não usa armas de destruição em massa

para proteger ... suas serenas casas,

e cultivar a sua paz...


Curupira é menino esperto

Desvenda olhos para que se veja a chuva.

Este tipo de chuva, freqüente,

abundante, que quase ninguém

se deixa aprender a ver


Curupira é menino astuto

Nele habitam multidões

Percorreu a Trilha Inca

E com seus movimentos provocou erosões,

destronou permanencias

e ameaçou a integridade de várias ruínas


Curupira é menino traquino,

traquino e sabido, com seu exemplo ensina:

- Trilha com integridade d'alma seu caminho!

sábado, 17 de dezembro de 2011

CONEXÃO USB

Com Maria de Souza


O gesto próximo,

da mão direita - mais ativa...

Vicia a gente numa porta.


O tempo

vicia a gente numa porta.


E quando a conexão não se estabelece...

acontece alguma coisa que não sei entender.

Qual o quê?

Mas por que é que eu não consiguo estabelecer

uma conexão USB?

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Poesia Queer

Uma drag queen.
Seu nome: Samantha Flower!
Como fazer um nick drag:
juntar o nome do primeiro bichinho de estimação e com o nome da primeira rua em que se morou!
Minha drag: She-Ra Bonocô!
Saudação: Orixá pop, Alec, de Amelie da Areal!

Cego Aderaldo


Cego Aderaldo na beirada da morte, moribundo fala com a Vida!

Vida, volta!
Quero sentir teu calor.
Frio, vida! Frio, vida! Sem teu cheiro, tua cor.
Mas miro, intuo, ouço paralém da dor.
Vou-me embora, já não sobra nada.
E vou-me embora, pois tudo se acaba.
Vejo e num vejo nada.
Vejo as coisa narrada...
Vejo mesmo é meu benzim avuano...
Dou-lhe um tristi adeus.
Mas prossigo caminhano.

Para o menino novo e seu violão.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Casa 37

Aos Manoéis (Barros/Bandeira)

Vou-me embora pra Pasárgada!
Lá sou amigo do Rei.

Vou-me embora pra Pasárgada!
Deitar minha cabeça de orixá queer.

Deixo uns rastros, dos passos que marcaram de leve o chão.
Meus passos pesados, fundo fincaram suas marcas no grotão.
E agora há só a leveza de Pasárgada que tornou-se meu rincão.

Vou-me embora pra Pasárgada!
Lá sou silêncio e recolhimento.

Vou-me embora pra Pasárgada!
Deitar minha cabeça voar fora da asa.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Trabalharia


Assinar documento.
Criar planilhas.
Supervisionar.
Carimbar e assinar.
Carimbar e assinar.
Planejamento.
Reunião, aqui, ali e acolá.
Manter: disposição, sorriso e bom humor.
Estudar, estudar, estudar.
Carimbar e assinar.
Carimbar e assinar.
Fazer o plano, corrigir o trabalho.
Avaliar.
Re-significar os problemas.
Manter: a ética, a diplomacia, e a delizadeza.
Carimbar e assinar.
Carimbar e assinar.
Correr bastante. O tempo é sempre curto.
Incêndios para apagar.

E no fim do expediente. Fechar a porta e...
esquecer.

Lugar de trabalho é no trabalho, pra trabalhar.

Todo outro trabalho que houver há de ser, tão somente, o que me fará gozar.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O Bolo ( outra fatia)


brigadeiro,casadinho, goiabada,
cocada, bala, algodão doce, maçã do amor,
paçoca, doce de leite, doce de coco, maria mole,
quebra queixo, rapadura, pudim, jujuba,
bombom, queijadinha,suspiro, cajuzinho,
pé-de-moleque,quindim, gelatina...
Enfim... tantos doces por aí.
Eu querendo ganhar um beijo,
e ela só me dando bolo.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O ralo do mundo


E onde é que fica o ralo do mundo?
Fui na beirada do mundo. Não achei. Nem entendi.

Feliz, contentei-me em escorrer pras águas do mar!

E onde é que fica o cú do mundo?

Haja resposta pra dar.

domingo, 20 de novembro de 2011

Cantiga de Água


Passo por baixo da ponte...
Deixo a corrente levar.
No rio sou pedra corredeira,
que não deixa o limo pegar.

"- Como bom barco no mar...
- Eu vou, eu vou"*
- Canto uma cantiga pro mar...
- Odo Oiá, no meu canto.

Passo por baixo da ponte...
Me deixo levar pelo mar.
Sou ido, pedra corredeira,
que não deixa o limo pegar.

- Navego no profundo mar...
- Eu vou, eu vou...
- Canto uma cantiga pro mar...
- Odo Oiá, no meu canto.

Éhhh!
Água de Cachoeira.
Éhhh!
Festa de som e beleza!

* Citação, Otto "Saudade".

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11/11/11

Seis falos... seis pontas, seis pontos no portal de Aquário que se abriu.
Seis seres, seis veredas, seis meios, seis configurações de um sistema complexo de encontros.
Ser, ser, ser.
Interser.
Fazer uma ação em concerto, um concerto de seis peças e aedos soados nos seios de muitas vozes, um concerto em multidão.
Que as fraternuras nos guiem pelas seis veredas de então.
Data doce, doce simetria no sertão.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Nonsense

- Vlad, quando lerei meu último Becket?
- Não sei. (Pausa) Quando Godot chegar?
- Mas quando? Quando ele chega? Hoje?
- Ele disse que viria na segunda-feira. Não falou? (Pausa) Ele não falou, meu caro Stragon?
- Mas que dia é hoje? Segunda?
- Já não sei! Há quantas segundas mesmo estamos aqui esperando Godot passar?
- 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9.... 1394, 1395, 1396, 1397... 20556, 20557, 20558....
- Chega!
- Vlad, quando lerei meu último Becket?

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Aquela Quinta-Feira - 27 de outubro de 2011


Marcha soldado, cabeça de papel

Quem não mar chá direito

Sai preso do Campus.


Em solidariedade aos colegas da USP.



segunda-feira, 31 de outubro de 2011


Gripada

Os pensamentos tão entupidos quanto as narinas

E se assim escrevo a poesia sai resfriada

Febril e com leve enxaqueca.



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Hora do deleite

Protesto!
Hora de deleite é hora de deleite.
Não venha tomar-me o direito de sonhar, de permitir meu devaneio poético.
Hora de deleite é hora de deleite, ora bolas.

Protesto!
Hora de deleite é hora de deleite.
Então se deite,
se enfeite,
não necessariamente nessa ordem.
Porque o bom deleite bagunça...
porque o bom deleite derrama e se espalha por todo canto...
porque o bom deleite desmancha e dissolve-se com a saliva...
com saliva ou pranto.

Então, com saliva ou pranto:
hora de deleite é hora de deleite.

Com a delicada Colaboração de Paulo Vitor Cruz
no ar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Cezarianas - quaisquer delas

um talhe, um corte
um talhe, uma corte, um corte
um corte, um talhe, uma corte, um corte

tesoura, faca, facão, espada, serrote, navalha, bisturi, pedra afiada, punhal, faca amolada, foice, alicate, serra, aparador, liquidificador, cortador, fatiador, gilete, dente afiado, estilete, linha 10 com cerol, tesourão de jardinagem, cortador de grama, canivete, espinho, alumínio rasgado, ferro e aço afiado, lâmina de vidro quebrado, cacos de espelho no chão.

um talhe, um corte
um talhe, uma corte, um corte
um corte, um talhe, uma corte, um corte
um parto.

Felicidade Bigorna

Depois de uma longa pausa de repouso o menino acordou.
Descanso merecido.
Acordou, espreguiçou-se (impressionante como a palavra espreguiçar parece mesmo estar espreguiçando-se).
Abriu os olhos. O branco do dia invadia a janela e deixava a visão turva, cega com o claror. Aos poucos as pupilas acostumavam-se.
Parou, pensou, pensou bem...
Olhou direito, reflexivo, e falou:
- É! Acho que estou voltando ao trabalho.
Ascendeu o primeiro cigarro do dia. Fumou-o. Fumo-o até o último sinal de fumo.
Em seguida ascendeu em felicidade e gozo.
Refestelado ao prazer sem vaidade, prazer que é representação do absoluto, prazer que é só redenção e nem sequer faz gosto de ser.
O pensamento era só felicidade...
mas, voltando a si, refletiu mais uma vez, re-pensou:
- (pesaroso) Eita, responsabilidade!
E riu-se num bailado doido.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A menina e o passarim


A menina cantava, um cantar doce e fortuito, melodioso que só.
De onde tudo onde era canto da terra se escutava o ulo da pequena sereia.
Mas gostava de ficar sozinha no quarto, a menina,
A menina batia-se nas paredes....
Não as enxergava.
Parede nenhuma e parede não havia.
Mas chocava-se duramente contra elas.
Lançava-se louca e violenta contra todo e qualquer obstáculo de concreto que a si se apresentasse.


Dormia na geladeira, e passeava pela casa andando pelas paredes...
Era de uma soltura, a menina, de um arejamento de fazer medo.
Da janela do quarto chegava sempre a visita pra menina.
Era dito e certo que ia acontecer, e to
do mundo sabia até a hora.
Toda noitinha lhe chegavam os pássaros, vezes em bando, vezes só.
Entravam felizes em alvoroço. Serenos com seus destinos.
Havia noites com mais, outras com menos, mas as aves estavam sempre ali, no momento oportuno e ordinário.
A menina delicadamente lhes retirava os olhos e os devolvia à natureza.
Os pequenos olhinhos eram jogados no jardim onde se florecia flores azúis e carmim.
Cada olhinho virava um tubérculo donde brotava o caule que enramava e abria-se em flor, azul ou carmim.,
Era um belo jardim...
O mais belo.
Belo de se fazer inveja.

domingo, 23 de outubro de 2011

Na medida

Quanto mais forte melhor, e tanto mais forte, mais denso, mais profundo, mais intenso.
Sempre.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Banho de Chuva

Quando chovia dançava sem som em seus próprios desvãos...
A menina corria na chuva... estavam todos ali, protegidos, mas ela insitia em se manter na chuva... num deleite de banhar-se.
E banhava gostoso...
Refestelava-se com o prazer que o banho de chuva lhe proporcionava.
Abriu todos os armários...
esvaziou todas as gavetas...
destruiu os três cofres que, em casa, guardava.
e levou tudo para o quintal...
pra um belo banho de chuva.

LAMENTO SERTANEZ INHENTRE AS MONTANHA DU SOL

Pur entri as montanha bela,

num grandi vali silencioso e calmo, passo uns tempo doce...

Lá do alto dium castelo sertanejim e brancalvo...

Si vivo, vivo apenas indiante di minhas imagem...

Pra todos os dia indiante do espelho:

mi vejo, mi olho, reszcolhu, reszfaçu i amostro sempre um dus meus corpo visto,,,

I saio vago, inhermo pur aí,

isperano, no inhesmo, u cutidianu passar.

I maiszium dia,

i maiszium um dia,

i maiszium i um i um i um i um i um...

Si vivo, vivo apenas indiante di minhas imagem...

i mi perco um poco nas sombra íntima dos dia...

dos dia qui num mi querem ver impassar...

Oh, diaszins lento, calmo!

Oh, diaszins ruinzim de impassar!


Esses dias senti uma vontade profunda de me suicidar. Parei... pensei .... e me esvai em poesia. Todas elas de uma densidade assustadora, reveladoras de mim sem meu consentimento. Foi jorro, vômito; tive medo. Destruí todas elas! A vontade remoça!!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Arrumando a casa sem dor

Limpando a velha casa-templo...
Re-alinhando a complexa dinâmica do cotidiano,
numa empreitada íntima.

Começo por mim.
Olho mais fundo, mas de perto a minha própria existência.
Ouvindo o que gosto.
Lendo as obrigações até o ponto que posso.
Lendo os quintais e me refestelando com eles.
Derrubando os preconceitos que engessam.
Re-adequando posturas antigas demais.

Limpando a velha casa-templo...
Re-alinhando a complexa dinâmica do cotidiano,
numa empreitada íntima.

Sentindo cada dia por vez.
Matando, ou melhor, sacrificando, todos os cães que muito ladram ou mordem. Qualquer sinal de grosseria, violência, abuso, arrogância ou aridez é respondido com um golpe tão violento quanto fatal de pura gentileza desconcertante.
Deixar os sentidos leves.
Sentir tudo, tudo, em alguma medida, me dirá respeito.
Não ser feliz o tempo todo.
Mas procurar dar vazão para a alegria.

Limpando a velha casa-templo...
Re-alinhando a complexa dinâmica do cotidiano,
numa empreitada íntima.

Antropofagizar...
entender que o Brasil é resultado da mistura, que sou parte disso
e que "a pureza é um mito" (Oiticica), e que os mitos se gastam e morrem.

sábado, 1 de outubro de 2011

Espectando o dia passar

Sentou-se no batente de casa e deixou-se estar.
Era uma madrugada velha...
parecia a mesma de sempre, mas tinha um jorro distinto.
Ouviu o canto dos pássaros que teciam aquela manhã rosada:
tiê, pardais, tibós, sofrês,
era uma manhãzinha laranja que anunciava um dia novo e o início de uma nova história.
Parou para assistir ao espetáculo.
Ascendeu o cigarro de fumo de rolo e resolveu ficar ali para ver, para assistir a vida naquele dia passar.
Ia ficar no mais absoluto silêncio,
Esperando que o dia corresse como sangue nas veias do tempo.
As expectativas não iam longe.
Havia de ser um diazinho qualquer como qualquer outro.
Mas apostou na surpresa, apostou na possibilidade de surpreender-se.
...
uma mulher passou devagar,
um homem, um burro velho e um poeta.
Voltou a fumar o velho cigarro de fumo.
Não demorou veio o cair da noite com seu véu azul estrelado.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Socorro!! A rigidez do mundo me consome...
E eu avesso a ela e a tudo transformado em formulas, cálculos, ângulos
Dispenso os eqüiláteros que buscam certa congruência dos meus obtusos desejos, estes que me impulsionam para o entre lugar
Para o território do desconhecido
Onde tudo permanece sem forma,
Livre e pulsante como toda força é!
Não há indecisão maior:
Ou vivo ou sou feliz!
Quantas encruzilhadas
E nenhum despacho!

Ta aqui sartando fora de mim uma vontade latente

De ser loucamente, nem que seja brevemente,

Tudo que desejo ser

E podendo ser, não hei de me perder ermamente

Em nacos de memórias, em rumos, trajetórias e

Fiapos de histórias.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sozinho e acompanhado

Era preciso uma foda boa, uma bela foda avassaladora...

Uma foda daquela de destruir quarteirões...

Sua libido era tanta que a carne tremia, que os pelos se eriçavam, que a pele transpirava, que o sexo todo se molhava...

Era abastado.

Tinha do seu lado a companhia ideal.


Mas tudo parecia flácido e antigo demais.


Tédio.


Era isso.


Olhou em torno.


Terminou no banheiro numa deliciosa masturbação na madrugada.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Dobrando teimosas ganas


Estava no olho do furacão. E resolveu parar para comer amendoins.

“És louca!!!” bradou os que viram a cena “ Estamos no centro do acontecimento, no tempo do agora. Mas alguns instantes e veremos tudo vir sobre nós, a realidade arrancada do chão rodará em espiral no céu e tentara nos atingir. Mas um pouco e serão lançados contra nós, carros, casas, pessoas e tudo que o vento encontrar pela frente. Seremos alvo e seremos também lançados como balas contra outros alvos. Temos de fugir, de correr, arquitetar um plano que talvez nem tenhamos condições de por em prática”.

Sorriu. Olhou aquele outro que bradava desesperado e achava que seu desespero era a matéria de sua salvação. Sorriu novamente, comeu mais alguns amendoins, não sabia quando e se poderia fazer isso novamente. Olhou para o céu e contemplou por uns instantes o efeito do vento sobre as coisas. Sabia mais ou menos o que viria a seguir, um vento devastador, milhões de eventos que exigiriam dela bilhões de ações e reações, riscos, decisões para serem tomadas de imediato e que por um triz ... Saboreou o amendoim até terminar o pacote, sentiu vontade de viajar... decidiu que quanto aquele vendaval passasse iria respirar ouros ares...


domingo, 18 de setembro de 2011

Sobre as coisas que quero ver



Poesia é escrito sem valor
E é do que me valho.

De grão em grão se chega a Wally Salomão
ou fica-se pela estrada fazendo acrósticos,
Ou perde-se, talvez.

Há três coisas que quero ver:
neve: quero pisar, fazer boneco de neve, derreter, arranhar o rosto,
chuva de granizo: de dentro de um hotel à beira da lareira
e areia movediça: esse não sei se quero tanto não (existe ou é brincadeira?).


Eu que não tenho tino poético
poderei compor poesia que me revele?
Eu que faço sexo com mulher
e não me sinto homem
flutuo pelo domingo
de casa em caso
de encontro em reencontro.

Mergulho em caminhos movediços
nas contingencias do ser, é, e vir a ser
E nunca sou!
Nem aspiro ser
Poesia não deseja...
Coisa alguma,
bom senso algum
ou verdade outra.
Ou esclarecer
quem nunca pensei que fosse.

Imóvel, estática, parada.

Quando muito contemplativa,

Eis a imagem

Bonecas de cerâmica

Namorando no balcão

Enquanto o artista grita

Que nem só de natal

E São Jõao se compõe um ano.

domingo, 11 de setembro de 2011

Poesia Delicada

Homenagem às primeiras turmas de Teatro e de Dança da UESB



E como diria Wally Salomão:
- Rola no cú do povo!


"O que menos quero pro meu dia polidez,boas maneiras.Quando nasci, nasci nu, ignaro da colocação correta dos dois pontos, do ponto e vírgula,e, principalmente, das reticências.(Como toda gente, aliás...)Hoje só quero ritmo.Não está prevista a emissãode nenhuma “Ordem do dia”.
Alguém acha que ritmo jorra fácil, pronto rebento do espontaneísmo?
Hoje..."
O Marinheiro da Lua

sábado, 10 de setembro de 2011

BOBO

BOBO DE CORTES
(Dizia-se bobo, ou como dizendo bobagens)
Estou com muita saudade de tudo, mas ao mesmo tempo praticando um recolhimento: estudando, fazendo poesia no delicado ensaio, montando quebra-cabeças, escrevendo palavras cruzadas, me metendo em responsabilidades, pensando em dar certos pontapés, curtindo o velho namoro, iniciando uma abdução coletiva, ansioso para escrever o livro inteiro, vendo velhos amigos, me entorpecendo nas horas fugidias e sendo feliz. Achei o tom da felicidade?
(E se ria)

Exercício dramatúrgico do solilóquio de uma fala só

- EI! Psiu! Silêncio. (Pausa longa) Tá ouvindo? (Pausa curta) O miado. Tá ouvindo? (Pausa eterna)

Das cegueiras 1



Ele gostava tanto de borboletas
que as vezes confundia cobras com lagartas
e ficava admirando serpentes
esperando que criassem asas
e se tornassem sublimes.



quinta-feira, 8 de setembro de 2011

DYONYSIAS - BAKXAI

No ar deste Sertão alguma coisa me diz que há prenúncio de dias mais coloridos:

A primavera já vem dobrando a esquina florida de novidades.

E esse frio que trinca osso e me traz preguiça parece enveredar por outras paragens.

É a cor suplantando o tom oblíquo do céu cor de chumbo

É a vontade de ocupar as praças e ser pouso de borboletas alegres e faceiras

É um perfume de mil cores.

Um desabrochar

Anunciando colheita e novidade.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Mudança de senhas

xxxx
Senha inválida.
xxxx
Favor tentar novamente.
xxxx
ERROR! FAILED!

xxxx
Senha inválida.
xxxx
Favor tentar novamente.
xxxx
ERROR! FAILED!

xxxx
Senha inválida.
xxxx
Favor tentar novamente.
xxxx
ERROR! FAILED!

GAME OVER!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Fotografia sonora

Um dorso,
um fosso,
num passo,
uma dor no osso
uma pausa de semínima,
um traço.

Havia, no entanto, um sorriso escuso,
riso de soslaio.

Na foto antiga, velha, gasta pelo tempo.
Um felicidade morta gritava num agudo finíssimo.
Bastava que se olhasse para o velho retrato.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Na bandeja - cabeça, ouro e diamantes


Para mostrar do que era capaz, se prestava a qualquer atitude, sem a menor sensatez.

"Ele" estava sempre com uma melhor amiga: "Ela".
Eram amigos.
Naquele dia, em específico, ficaram na garagem de casa, conversando putaria e assistindo ao trator que estava estacionado em frente a casa do vizinho. Que inusitado. Quem imaginaria? Um trator.
Era isso. Os dois não duvidavam mais de nada.
Tudo parecia morno, bucólico e silencioso demais diante daquele trator enorme que repousava calmo, adormecido, do outro lado da rua.

Mas a calma fora abalada.

Eis que passa por "Ele" e por "Ela", ali, de súbito, um homem lindo, lindo e musical:

toc, toc, toc, toc... (faziam seus passos nas velhas ruas de pedra do lugar)

Silêncio sepulcral.

Que inusitado. Quem imaginaria um homem lindo daquele, Apolo cruzando a rua daquele jeito? Sem pedir licença, ou avisar.

"Ele" acompanha musical astro da noite, apenas com o olhar.

toc, toc, toc, toc... (faziam seus passos nas velhas ruas de pedra do lugar)

Já "Ela"! Hum!
"Ela", entratanto, encanta-se com a musicalidade sonora dos passos ritmados do Apolo/Boto cor de rosa. Fica completamente seduzida pelo canto da sereia.
Embriagada, se entorpece com o som e com o perfume prenhe de testosterona.
Curiosa, curva-se por sobre a grade de lanças de que era feito o portão da garagem.

SLAP!

Fora Decapitada!

"Ele" abriu repentinamente a grade do portão.
Fatal!
Pobre "Ela".
"Ele" arrancou a cabeça da amiga.

"Ele" ainda pensou em se desesperar e sentir uma profunda culpa.
Como já não havia o que fazer... resolveu servi-la: a cabeça.

Mas "Ele" esperou para servir.
Só se sentiu à vontade para servir a cabeça, de fato, a todos, quando pôde exercitar sua erudição na composição do prato. Sofisticadamente "Ele" ofertou aquele crânio apetitoso, a cabeça-amiga, num especial jantar, dado em casa. Jantar oferecido ao seu pior inimigo.
"Ele" servira a cabeça de "Ela" como prato principal, numa bandeja de ouro e diamantes.
Eis que todos reconheciam: - "Diamantes lindos, os da bandeja".





terça-feira, 23 de agosto de 2011

crise de abstinência



Cocaína?
Que cocaína!
queria mesmo
era cheirar o pescoço
da menina.

Outra droga?
não há outra
melhor que te saborear
e dar beijo na boca.

Fumar broto?
tanto faz
Bom mesmo é estar perto daquele rapaz.

sábado, 20 de agosto de 2011

Premências;Desvelos...insurgências... Gritos de um silêncio a dois

É isso! Um pequeno excerto, dito de tanta coisa. Ele mesmo, catalisador de tantas outras tão maiores. Quando estamos felizes, sei que realmente não é fácil entender ou segurar porque o outro simplesmente não está. E assim, impacientamo-nos com aquele outro que "está sempre mal, que vai sempre dizer que não tá bem". Sei bem como é essa sensação e você sabe o quanto eu sei.

De qualquer forma, a quem está bem recai uma enorme responsabilidade. A felicidade não se dá gratuitamente. Exige sempre de nós. Ao infeliz, há sempre o recanto dessa infelicidade a de certo modo protegê-lo. E foi não me furtando a essa felicidade que eu sempre cuidei pra que minha felicidade não fosse um ofensa à infelicidade de ninguém, mas antes, um estímulo, um impulso a um olhar diferenciado à própria mazela de quem me destinava o olhar.

A minha preocupação foi sempre que a minha felicidade não me conduzisse a ingerência de um egoísmo capaz de me tornar maior que os outros com suas dores, fossem elas plausíveis ou descartáveis, mas sempre LEGÍTIMAS. E é fato, tenho em mim, nas qualidades que são essenciais, uma enorme alegria em compartilhar felicidades alheias ainda que não atingido por elas ou que esteja tomado por certas melancolias. Não sou melancólico e, por isso, ainda luto contra essa condição nova, e, quase sempre, com as armas erradas, o que me torna incompreendido e transito da melancolia à infelicidade experimentada.

Meus cansaços não são mais os do tédio como outrora, mas o da perspectiva interrompida, o da exigência frequente de ser otimista como própria condição de vida; da luta persistente pra ser melhor onde ainda não alcancei; fosse eu apenas professor, pudesse eu restringir-me apenas a ser amigo, quisesse eu ser apenas amante e, eu seria um tipo iluminado espiritual superior. A questão é que dispus-me também a ser amor e , essa avaliação será sempre do outro a quem submetemos. Quero dar muito e não tenho esse tanto a oferecer. E o tanto que solicitamente entrego será sempre pouco.

Conheço o meu risco; compreendi a minha capacidade incrível de ferir e machucar e, por isso mesmo, tantas vezes recolhi-me ao silêncio, outras tantas às repetitivas desculpas.
Se eu pudesse escolher qualquer pedido, eu escolheria viver e, em grande parte, isso tem a ver com viver você. Se ainda me restasse outro pedido, pediria que fosse você no meu viver ( que já tenho mas não estou tão certo); e se uma última benesse ainda se apresentasse, desejaria ser compreendido, ou nada valeria (ou valerá) viver (COM VOCÊ).

Da sua voz ao telefone - que em nosso caso substituiu tanto o olhar, a expressão corporal - desapareceu o ímpeto misturado a uma respiração apressada. Pudesse eu escolher, teria de volta aquele tom inquisidor, pois com ele tantas vezes tive também o gracejo entregue sem dificuldade. O que fica nessa voz agora é o tom do dito com que se diz qualquer coisa a qualquer um. Fui eu mesmo quem sempre disse que estava preparado para as mudanças, porque paixão não pode durar mais que nosso cérebro suporte. Mas também conheço bem os meandros de falas amorosas, em que impera uma certa ternura, uma grandiosa segurança e uma maior ainda capacidade discernida de cuidar.

Já há tempos tenho sentido os minutos diminuírem, o relato do cotidiano tornar-se corriqueiro e parece não mais imprescindível, e a satisfação deixou de ser interesse para tornar-se uma notificação. Sinto falta da felicidade maior compartilhada. Ouvi tantas vezes o tão bem descrito sofrimento que aprendi a compreendê-lo com esmero.

Com você experimentei e acumulei dores que não compartilhei com ninguém. Fiz com que elas fossem esquecidas pra que eu não me sufocasse em melancolia. Não escapei. Se desses motivos, outros acabaram por se apresentar. Tenho me sentido pouco compreendido, ou, você tem mostrado-se pouco didático em mostrar sua compreensão. Ainda ecoa em meus ouvidos a espontaneidade que outrora era do eu te amo e do quanto você é lindo pela impaciência punhalesca do "nunca atende", do "é isso", do "vai dizer que ta mal, sempre diz". Parece que isso é mesmo muito maior também pra você do que sexo casual, ou repetido, ou mentido, ou promessas vãs! Também imagino que deva ser mais fácil viver com o mentiroso cúmplice, com o canalha gostoso, com o safado carinhoso, do que com o amor entediante porque sofre, porque cansa-se, porque transfere dor, porque morre.

Deve ter sido mais simples ontem não ter ligado, ter desligado o celular, ter não se inclinado a responder a mensagem, ter dispensado boa noite, ter não se importado com por onde o outro leva sua dor. Eu simplesmente não cheguei a esse estágio ainda. Não cansei. Não consigo utilizar a indiferença; ainda perco o sono, ainda perco a paz se não há paz contigo. Consigo encontrar conforto, consolo, iluminação onde jamais esperei dividir. Alivia, mas não suspende a dor. Essa depende de um acerto que não cabe terceiros, a não ser que seja ajuda profissional. Me perdoe, por ter te tornado alvo de minhas dores todas. Deve sim ser insuportável depois de um tempo carregá-las sozinho.

Era isso, foram essas coisas que me vieram a cabeça por uma noite inteira, que ainda estão aqui. Estou certo que você precisava não me ter essa noite, por isso não houve contato, resposta, procura ou cuidado. Vai ver, é do mesmo que eu preciso.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sou Junto

Eu:
aquilo quando estou só.
aquilo que sou com cada um.
aquilo que roubam de mim.
aquilo que me inspiram.
aquilo que me atribuem.
aquilo que contesto.
aquilo que intuo.
aquilo que como.
aquilo que evacuo.
aquilo que leio.
aquilo que ignoro.
aquilo que pago.
aquilo que me é inacessível.
aquilo que desejo.
aquilo que visto.
aquilo que sou quando me desnudo.
o que me basta.
o que me resta.
o meu avesso.
posto que sou tantos
e único.


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A repetição enquanto terapia

Por um momento... esteve sim... estarrecido, confesso.

A realidade caiu-lhe sobre a cabeça tal qual uma bigorna.

E assim com os miolos espremidos concluiu pesaroso:

- É, a vida está aí.


A realidade caiu-lhe sobre a cabeça tal qual uma pianola antiga.

Partiu-lhe a fronte ao meio... não lhe fora de todo ruim...

deu-lhe um arejamento, possibilitou uma entrada de novos ares.

E assim - com os miolos frescos - concluiu:

- É, a vida está aí.


A realidade caiu-lhe sobre a cabeça tal qual uma pluma.

Podia não ter feito nada

mas fez cocegas.


E a realidade caiu?

como assim, caiu?

e por acaso ela andava suspensa?

Sorte de quem acredita em poetas, metáforas e balões.

domingo, 31 de julho de 2011

Aprendizado de artista

(ao bom sotaque pernambucano)

era um saber de uma imensa dificulidade de mediação.
Era um tal de um cunhecimento que dava dessas dificulidades que as escolas véa já são incapaz de minorar.
E era uma mão-de-obra danada de horrenda.
Precisava de ver...
Podia ter os melhores professores,
a maior carga horária de aulas quanto possível,
os recurso mais avançados...

...no fim das contas era ele apenas...

estava sozinho...

nessa vereda véa longa, a da auto-educação, a de aprender a aprender e a de aprender a criar.


Na foto: Dead Class do encenador Tadeuz Kantor.

terça-feira, 26 de julho de 2011

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Asa de cobra


Para o aniversário de Aroldo

Nem sempre Deus (se é que ele existe) dá asa à cobra,
Mas quando ele resolve dar... ele sabe exatamente o que tá fazendo.


sábado, 16 de julho de 2011

O quintal de tia Libina - ou - Manga verde com sal

Nas férias, o quintal de tia Libina era o céu deste mundo: Um pé de goiabas quase sempre bichadas – afinal nem o paraíso é perfeito – duas bananeiras gigantes que nos alimentavam no café da manhã, um pé de caju que completara doze anos de idade sem nunca nos dar um misero e azedo cajuzinho.

- Paciência, paciência. Cada um tem seu modo de se desenvolver no tempo. Cada árvore é única. Se não deu este ano é porque não era o tempo de dar. Vamos esperar mais um pouco, que aí quietinho ele não esta incomodando ninguém. Dizia minha tia, sempre que alguém a aconselhava derrubar o cajueiro.

Tinham também algumas flores que nunca decorei o nome e umas ervas que minha tia usava pra nos fazer chá quando abusamos dos doces e nos contorcíamos com dor de barriga. Tinha também lá no fundo, bem pertinho do muro, a maior mangueira que alguém poderia desejar. Nem baixa, nem alta. Tinha o tamanho certo. Não era suficientemente alta de modo que não pudéssemos colher sem perigo algumas mangas e nem tão baixa a ponto de não haver frutas intocáveis, que só de pirraça a natureza fez parecerem ser as mais bonitas e mais cobiçadas. Até as árvores brincam de fazer charme!

Meu companheiro de brinquedos na casa de tia Libina era Paulo. Um primo um pouco maior do que eu, que gostava de exibir suas habilidades acrobáticas, subindo com destreza nos galhos mais altos da mangueira, enquanto eu me esforçava em não cair e quebrar um braço.

Paulo e eu passávamos as tardes explorando aquele quintal-paraíso, brincando com todas as fantasias possíveis de serem imaginadas. Mas no fim da tarde, sem nunca faltar, acabávamos trepados em nossa mangueira, nos empanturrando de seus frutos deliciosos.

Paulo tinha um gosto que eu sempre achei esquisito, mas que era a preferência de toda casa. Ele gostava de chupar manga verde com sal. Escolhia as mangas mais robustas, com a casca mais lisinha sem nenhuma marca ou sinal de defeito, cujo verde quase amarelado chegava cintilar. Cortava um pedaço gordo da manga, passava-o no sal e com prazer e com careta devorava duas, quatro, seis, até oito mangas enquanto eu ainda estava no terceiro ou quarto fruto. É que gosto de chupar a manga toda, comer as cascas e sugar bem o caroço o que demanda mais tempo do que simplesmente cortar e devorar.

Outro dia Paulo apareceu por aqui, tinha visitado tia Libina e me trouxe um fardo de mangas verdes. Me pediu o sal, me contou dos seus flertes e amores e debochou do meu relacionamento com a mulher que embora ele chame de velha tem nossa idade. Ele queria me convencer de que gostoso mesmo era comer manga verde com sal. Coitado, ainda não sabe o sabor de uma fruta madura.



Corrida de prazer


Você querendo ir a Canaã e eu a Pasárgada
Quem chegará primeiro?





quarta-feira, 13 de julho de 2011

Procurando embriaguês

Cadê minha insensatez?
Quanta intransigência essa minha de mover apenas com os pés.
Quero voar!!

terça-feira, 12 de julho de 2011

É

esse vede esté eme merde...
que fezer?
fezes
ne fé!

Modos de forjar uma aliteração.

Antes

Antes dor, que ser oco.
Antes rumor, que ser moco.
Antes dar humor, que dar soco.
Antes arte, que nunca.




domingo, 10 de julho de 2011

Ordem

Me sugue

Me lamba

Me mande

Me arranhe

Me faça seu.

Me faça sua.

A ordem altera o resultado.




Teologia da prosperidade


Compara deus ao presidente de uma multinacional.

Não se intitula pregador mas televangelista.

Lincha publicamente símbolos de religiões distintas a sua.

Leva as ruas uma multidão cega e/ou fascista para impedir a proteção legal de uma minoria ( ou maioria, que nos revelem os armários)

Rege uma “Assembléia de deus” onde o discurso não é pelo povo.

Prega um deus horroroso segregador, manipulador, excludente...

Não.

O diabo não está nas ruas

Nos livros do INDEX

No desejo do homo afetivo

Nas praticas sexuais livres

Não.

Se existir

O diabo faz sua morada nos discursos de ódio.



Leve uma banana também social

Viva a banana social.
Fálica salvação pros momentos de dissabores que nos proporciona a claridade...
Viva a banana social abanadora...
...nos assombrando com sua luz.
Viva a banana social.
Doce prêmio da desditosa vida.
Viva a vida na banana social.

Oh, poesia...
...saída de Leveza!
Leveza!
Leveza!
Leveza!

sábado, 9 de julho de 2011

Eis aí


Quer saber?
Eis aí...
meu cú, meu corpo, meu eu.
Faça o que quiser!
Vá!
Não provocou?

Quer saber?
Eis-me aí...
humano como qualquer um.
Cheio de defeitos e desejos!
Vá!
Não foi isso que você quis?

Quer saber?
Eis seu destino...
o de ser só isso.
Um pobre desentendido.
Vá!
Siga seu destino!

Quer saber?
Eis-me aqui inteiro...
louco para que nos entendamos plenos.
Cheios de vontade de ser feliz.
Vá!
Me ajude a dar certo.
E se não der...
Deixe-me apenas um ADEUS!

Humildemente lhe peço.

Pêsames de autor

Oh, meus ais! Pobre de mim. Acabo de matar minha personagem. Triste pesar.

Lançamento na pista do suicida com medo da morte

Naquele dia X acordou com um mal humor horroroso. Levantou-se com dificuldade, o corpo todo lhe doía. O dia anterior tinha sido o mais difícil de sua vida. Vestiu um trapo qualquer. Não lavou o rosto. Não banhou-se. Não tomou café. Apenas bateu a porta e saiu. Parou no primeiro mercado. X ficou horas namorando uma faca Tramontina que estava na prateleira. Olhava o preço, um tanto salgado. Examinava a embalagem. Imaginava a faca em ação. É. X lembrou que o povo sempre dizia que as facas tramontina eram sempre muito boas. Lâminas fortes e afiadas. Talhe para qualquer natureza de carne. Fez. Comprou-a. Foi para a pista mais movimentada da cidade.
Na pista, executaria sua tão planejada e derradeira ação na trama da vida. Era um fim tágico, mas X havia anunciado tudo nos mínimos detalhes naquele dia anterior da maior danação.
Numa das calçadas, ao som dos motores dos carros que passavam, X tirou a faca da embalagem. Com carinho. Lentamente repassava cada movimento de seu plano funesto. Estava hipnotizado, sequer notava o movimento da pista, tinha olhos apenas para sua faca tramontina.
No momento exato do golpe fatal X titubeou. Respirou fundo. Chorou. Arrefeceu. Faltava-lhe coragem.
Triste com opróprio fracasso, com seu medo abissal, X viu, ao longe, uma grande carreta que se aproximava rapidamente.
Era isso.
Subiu no alambrado.
Lançou-se na pista.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Os paus de uma canoa

Com quantos Franciscos se cursa um rio?

E Com quantos Chicos se encanta uma Yolanda?

Com quantos Caetanos se acende uma chama?

Em quantos Gilbertos se decompõe a metafísica?

E o outro Gilberto, em quantas bossas se desfaz?

Em quantos Vinicius transbordam-se as morais?

Com quantas Clarices se invoca um espectro?

Com quantos Pixinguinhas se contém um choro?

Em quantas doses se embebeda uma dor?

Em quantas Cecílias se brotam primaveras?

Com quantos Quintanas se flutua a leveza?

Quantas pessoas dentro de um Pessoa?

Quantos Pessoas cabem numa pessoa?



quinta-feira, 7 de julho de 2011

A menina e a canção

A menina acordou inquieta. A noite fora-lhe um pesar sem medida. Sonhou a noite inteira com uma canção que se repetia... se repetia... se repetia... sempre repetia como uma onda do mar. Acordou desesperada. Foi até o computador. Antes de qualquer coisa. Selecionou a pasta Mônica Salmaso. Arquivo: Tonada Del Cabresteiro.mp3. Ouviu três vezes. Carecia voltar a sonhar.
A menina ganhou aquele dia do cão.
Tirou de letra.

Poema patético 2

Que barulho é esse lá fora?
É a felicidade cantando no pio
dos pardais cantadores, que inebriam os ouvidos fiéis.

Que barulho é esse lá fora?
É a dimensão que nos traga, o tempo que nos atravessa,
embalado pelo tiquetaquear fino da máquina de cuidar.

Que barulho é esse lá fora?
É o som leve e ritmado de minha respiração... e só.
Inspiro, expiro.

Que barulho é esse lá fora?
É o som dos estampidos no teclado da máquina...
do zunido que faz a geladeira para refrigerar...

Que barulho é esse?
Foi só o telefone que tocou.
Estridente e desagradável como nunca.


Ao modo Drummondiano

Qualquer coisa

Qualquer coisa arrumo minhas malas e vou-me embora...
ou abro o sorriso doce de escárnio...

Qualquer coisa grito, te ligo, te explico,
ou te conto uma coisa qualquer.

Qualquer coisa estou aqui, para qualquer coisa...

Qualquer coisa me dê a mão...

Qualquer coisa me procura... vou ter carinho em te atender...

Deixa estar...

Qualquer coisa a gente se lança de novo na vida...
cicatriza a ferida...
deixa nascer...

Qualquer coisa ficamos sem rumo,
procurando um bom prumo de um bom proceder...

Qualquer coisa... não sei... acho que a gente saberá o que fazer...

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Apenas isso...


Quero apenas desfrutar do teu tempo e atenção.

Quero apenas te dar um beijo.

Quero apenas usar teu corpo.

Quero apenas gastar teu dinheiro e decorar tua casa.

Quero apenas escolher com quais dos teus amigos você continuará se encontrando.

Quero poder apenas... fazê-lo esquecer tudo.

Apenas isso. Peço-lhe pouco. Basta que me de tudo.


A gangue

Ladrões como não existem outros,

Se diferenciam dos demais pelo método que empregam e pelo objeto do furto.

Ladrões do tempo.

Não de relógios, ampulhetas, cronômetros ou calendários

Furtam o tempo propriamente dito.

Essa coisa indissociável do espaço e que é palco de nossas vidas

(todas elas).


Ninguém nunca soube como procedem no furto,

mas o fato é que por vezes não dispõem de tempo algum,

estão duros, sem tempo para o que quer que seja

apertados e espremidos entre uma obrigação e outra.

E de repente,

não se sabe como

lá estão eles, riquíssimos

gozando de horas e horas

e tempos imensuráveis.

Boêmios.

Filhos de Baco.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Embriaguês

Queria embriagar-se.
E embriagou-se.
Ela embriagou-se! Num vinho tão leve e doce.
Vinho de sabor assim... é...
Pois bem.
Um vinho de sabor bucólico. Ficava encerrado numa garrafa amarelada não sei pelo quê.
Um rótulo poesia... que embalava a graça e a desgraçada, da danada da embriaguês.

A noite fora-lhe longa.
Cheia de hybris
de gracejos íntimos
de afagos fraternos
carinhos.

Ela e os outros embalados:
Cinestésicos amavam auditivos,
que amavam visuais,
que não amavam ninguém
ou amavam todo mundo.

(Pausa)

O despertador toca estridente.
Sobriedade!
Silêncio.
Escorreram, cada um a seu modo, embriagados.

domingo, 3 de julho de 2011

Quanto Carinho

- Quanto carinho!Quanto carinho!Quanto carinho é esse, benzinho?
- É só meu modo de sentir você.
- Vixe, mas é tão bom esse seu modo... aprendeu com quem, quem foi que te deu!?
- Ninguém me deu não. Nem é meu esse modo. É coisa que você inspira. Que você cativa.

sábado, 2 de julho de 2011

Fora do eixo

Não havia coluna nenhuma.
Era fora do eixo pela própria natureza.
Nada lhe dava termo, lhe dava equilíbrio ou chão.
Mas se mantinha ali... no eterno exercício de resistência...
sobrevivendo...
fora do eixo... fora do eixo... fora do eixo...
e cheio de reticências...
...

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Desemputecida


Uma Macabéa.
Era uma criatura desemputecida.
Casada e quieta, monogâmica clássica.
O que era de louça quebrou-se:
Arreganhou sua boceta mordedora
e deu uma bela mordida no cú do mundo.
Realizou-se plena como puta, kenga, meretriz.
Era seu sonho de menina: ser uma linda mulher às avessas, ser outra, emputecer sua vidinha desemputecida.

terça-feira, 28 de junho de 2011

DIÁRIO DE BORDO : São joão

As tranças de Ric. Festa de aniversário de Beto com mil queijos e vinhos e trilha sonora de Mon. São jão no Bezerra com os Abreu e os Jerônimo e aquele perfume de memórias. Fogos, fogueiras, quadrilha, bandeirolas e a certeza de que a força de uma casa está na cozinha.

Chico Cezar, Elba Ramalho e Show de Dominguinhos, com aquela dor no peito e o medo de que ele se vá sem dar-lhe um abraço.

Notícias do Recôncavo. Reencontro com amigos de viagem, novas relações e o cultivo dos bons encontros.

Amada, minha presença querida. E um contentamento de estar com quem estive, feliz em saber de quem de longe lembrava de mim.

Gostosa com a vida, recebendo-a, desejando-a, queredora de algumas conquistas, feliz com as já conquistadas e ciente do imenso caminho a trilhar.

AH! E alguns terríveis quilos ganhos de forma deliciosa.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O que vem de baixo...

Palavrinhas vis

Como duas formiguinhas

Pronunciadas por criaturinhas tão minúsculas

Me beliscam

E incomodam.

Tão miudinhas

Tão insignificantes.

Picada fina, dorzinha aguda, ousadia pura.

Chega de dor.

Ou já era hora, ou já não era sem tempo.

Ei-las lá,

esmagadas,

formigas-pasta na sola de meu sapato novo.

Pronto!

Nada mais de dor. Só gozo.

sábado, 18 de junho de 2011

TEMPO DE ESPERA


(Para ser lido, em voz alta, em filas de bancos, de espera de caixa, de supermercado, ou na fila de uma repartição qualquer.)

Esperou nove meses para nascer.
Parto frondoso, orgasmo invertido* e cheio de dor.
Esperou a infância inteira passar para ser gente.
Eis como era:
Esperava em filas de bancos,
esperava nas filas dos caixas,
Esperava, esperava, esperava.
A hora de ser chamado,
a hora de ser mamado,
a hora de ser comido,
e todas as outras horas:
a de ser citado, de ser nomeado,
ou reconhecido, ou olhado, ou contemplado.
Esperava aflito a hora de amar.
Esperava paciente o tempo de ser ralhado, e de ser rechaçado, e de ser oprimido.
Esperava o transporte passar.
Esperava o tempo abrir,
e esperava a sinaleira escancarar em seu verde mais espantoso.
Atormentado, esperava a hora de comer, a hora de beber, a hora de excretar, a hora de expelir.
Eperançoso esperava sempre: o dinheiro cair do céu; os milagres se manifestarem; o grande dia chegar.

Esperava sempre um grande amor.
Essa espera era a única que não lhe extenuava.
Confesso: sentia que essa espera era uma espera besta.
Refletia um pouco, pensava em desistir.
Esperava todo dia um pouquinho mesmo assim.

Mas o que gostava mesmo era de esperar pela felicidade.
Se perfumava todo e esperava a felicidade bater em sua porta, cheia de vida e saúde, casta e silenciosa.
Ficou foi besta quando a felicidade chegou:
Era uma felicidade barulhenta, rock and roll, gostosona, uma felicidade puta, vadia, vagabunda, insandecida, cheia de dentes e doida para as pernas abrir.

Poesia escrita na fila do Banco do Brasil, uma fila que não teve fim.

* Referência a música "Nave Maria" de Tom Zé

Marchinha pela liberdade de expressão

Esta folha é verde
Verde esta folha é
Se toda folha fosse verde
Não despencaria do pé.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Epifania

Era um menino diferente
Como toda gente parida no sertão
foi criado pra ser lavrador:
arar a terra, cuidar da cova da semente, plantar direito, recobrir a semente com uma tira fina de areia adubada.
Por a mão na terra e sentir parte daquilo, ser daquela natureza.
Afagar a terra, debulhar o trigo, decepar a cana*.
Com o trabalho na terra o menino sentia-se assim: parte.
Era um prazer imenso pro menino lavrar fazer o que fazia.

Mas com o tempo o menino percebeu que era empregado de um patrão escroto que lhe açoitava de tanto trabalho, e que tinha de tudo sem nada fazer.

Viver aquela opressão diária do patrão deixava a hora passando mais vagarosa e fazia rebuliço e nó no peito.
Tédio. Tédio. Tédio.
Resolveu matar o patrão e ser patrão ele também.
E foi um patrão escroto. Desses que escravizam, que envenenam, que oprimem e até matam se puderem fazer.
Era essa sua vida de patrão.
Com o tempo a vida de patrão não parecia mais ser tão grata escolha. Porquê?

Não era possível que toda a gente fosse homem praquilo só.
Era só aquilo: conforto, solidão, inveja e ódio.
Tédio. Tédio. Tédio.
Com o tempo nada mais lhe dizia respeito.
O menino largou mão da crueldade de ser patrão.
Deu tudo, doou móveis, fazendas, xácaras e sítios...
Toda propriedade....
Nada mais ia ser seu.

O menino percebeu que a religião era quem tinha as respostas, que mesmo com todo poder que viesse a ter como patrão, estaria sempre subjulgado à uma força divina maior que a tudo via, julgava, absolvia ou condenava.
A religião dava ao homem mais felicidade que a propriedade.

O menino tornou-se religioso.
Achou que com um Zeus bondoso ia aprender o que era ser gente, o que era viver.
O menino julgou que assim ia ter respostas.
Mas com o tempo Zeus se mostrou não ser boa opção. Porquê?

A inteligência do menino era grande.
Seu talento retórico era impressionante em público.
Com o tempo o menino passou a gostar de ver toda a assembléia lhe ouvindo...
Uma plenária inteira atenta como ovelhas ao seu pastor...
ovelhas ocas, sem direção...
Passou a amar ter aquelas ovelhas silenciosas para adestrar e mostrar o caminho...
-Acima! Abaixo! Esquerda! Direita! Chão, chão, chão-chão-chão!
Seu poder era imenso. Um autêntico e genuíno sacerdote filho do poderoso e benevolente Zeus.

Era só isso?
Promover a ligação da terra com o cosmo?
Por que não disseram logo?
Era bobagem, o menino fazia isso "com o pé nas costas", como se diz.
Tédio. Tédio. Tédio essa sua vida de sacerdote.
Ser corrupto consigo mesmo, inventador de discursos de uma voz só.
Porta-voz de um Zeus que oprime, ordena, nomeia, julga, castiga...
Queria não.
Num ato de amor, extremo amor, o menino abandonou a religião e as ovelhas.

Havia percebido que o discurso laico da ciência era o que movia o mundo de seu tempo.
E estava resolvido: o menino ia tornar-se um intelectual apenas.
O menino começaria lendo filosofia.
Da filosofia rumaria aos estudos de física quântica.
Leria seus livros, veria seus filmes e só.
Mas com o tempo ser intelectual passou a não ser uma saída viável para a felicidade. Porquê?

O menino via tudo, a tudo olhava.
Reconhecia misérias, ignorâncias e preconceitos.
Olhava para tudo com desconfiança e via que o mundo não tinha mais jeito de ser...
Tudo lhe parecia óbvio e entrópico pela própria natureza
Era só isso: ter luz, enxergar tudo, desacreditar deprimir-se.
Era fácil demais.
Tédio. Tédio. Tédio.
O menino, num ato de rebeldia, fez uma grande fogueira com seus livros e escritos.
Aquilo não lhe dizia mais respeito.

O menino descobriu, por fim, que sua sina seria correr sempre atrás de beleza - que parecia sempre escorrer pelos dedos.
E o menino refletiu: só os poetas são felizes, ainda que tristes.
Só a metáfora lhe parecia, depois daquela jornada, potente, libertadora.
A capacidade de jogo, de criação, de relação era o que fundamentava todo o resto.
Alcançara o nirvana.
Eureka!

Estava feito, o menino, dali em diante, seria um fabulador, um POETA.



* "Cio da Terra" -

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Comendo tijolos


Brincando de explorar a essência humana. Escolhi com cuidado e Comprei um belo tijolo na velha casa de construção. Engoli todinho. Tijolo de difícil digestão. Tijolo disfarçado de bobo-da-corte do mundo. Seu nome: Hauser, uma carta na mão, um livro de oração e uma faca amolada em ferida aberta no peito do bicho. Cada um por si e Deus por todos ou - em língua alemã - Jeder für sich und Gott gegen alle - de Werner Herzog.

Hauser, Observado,relatado, estudado, analisado, dissecado... mas nunca compreendido. Quem será ele? O neto do grande general? Um mendingo? Um louco? Um mentiroso? Um deus? Um poeta, um artista? Uma criança? Ou um monstro?

O que é o humano? Uma construção social? Um fato em si?
Hauser é um incomodo. Um fiapo enfiado entre os dentes. Um desconhecido assassinado por um desconhecido. E há tanto a saber... mas a curiosidade não é fonte de compaixão.

OXALÁ EPISTÊMICA!!! Por luzes Macabéicas Hauseanas que nos mostre o paralelo, o paradoxo, o paroxismo!!!

O que é o mundo para alguém que viveu acorrentado contemplando uma parede? O que é o mundo para alguém que viveu acorrentado a filtros e estereótipos conceituais e caricaturas que são condicionadores e adestradores da percepção e do conhecimento e do sentimento humano? Ora, vá lá!!! “Tanto faz ser pão e circo” ou “pão e água”. Há muitos cativeiros nesta terra. Há tantos cativeiros nesta terra quanto tijolos a deglutir.

Ai. Meus ais. Sonho com o tal discernimento.

Ahhhhh! Hauser, uma carta na mão, um livro de oração e uma faca amolada em ferida aberta no peito do bicho. Guardando no peito uma história incompleta que me diz tudo e que a tudo me faz dizer respeito: o homem algoz do homem.

Ahhhhh! Hauzer, só um cego é capaz de ver que as montanhas não exitem e que é possível ir em frente passo a passo. Só o homem civilizado é capaz de achar que a torre ou o deserto ou a floresta são maiores que um quarto, um quarto/cativeiro.


Silêncio.

Vazio.

Hermético?

Hauser, uma carta na mão, um livro de oração e uma faca amolada em ferida aberta no peito do bicho. Se ao avesso o prazer estético desse filme me conduz... Fito-me feliz e triste. E ao artista, quem ou o quê o comoverá para além da compreensão? Se assim preferir, talvez você pudesse parar de ler este poema e assistir a um filme. Talvez.

Conferência acadêmica: Liberdade e Diferença

Estava só de corpo presente naquela tediosa sala de conferência. Meus pensamentos estavam na praia, nas montanhas e na escolha de onde passaria o próximo feriado.

Ouvi, então, a primeira frase:

HOMEM: A LIBERDADE SE CONSTRÓI NA RELAÇÃO COM O OUTRO”.

Aquelas palavras tragaram-me com a força das nuvens e me lançaram violentamente na última cadeira daquele auditório.

E não era tudo!

Seguiu:

HOMEM: a convivência livre dos juízos de valor, e sem tentativas de rotulações e enquadramentos é a única forma de viver realmente livre. Sendo a liberdade algo que se constrói na relação com o outro. é no exercício de comunicação e na prática da alteridade que melhor se gestão as normas de existência e bem viver.

O que era aquilo que aquele homem estava falando? Ainda consegui ouvir mais algumas de suas idéias e a cada frase sua fui sentindo um entendimento das coisas.

HOMEM: ...observando nosso tempo e suas contradições, fica claro que a atual forma em que nos organizamos não garante o bem viver para a maioria das pessoas. Ao contrário, os princípios de organização que normatizam nossa sociedade são pautadas numa dês-razão opressora das liberdades humanas e degradadora do espaço em que vivemos”.

Dês-razão?

Vivemos pautados numa dês-razão!!!!

HOMEM: Ao invés de posturas pessimistas e conformistas é necessário a ação e a consciência de que “nenhuma realidade é imutável”, “toda ordem pode ser invertida” e que “outras realidades são possíveis de serem construídas”.

Ao terminar de falar esta última frase o homem vestiu uma saia longa rodada, pesou a mão num batom vermelho sangue, calçou um salto plataforma e saiu desfilando, flutuando e em silêncio do auditório. Todos apenas acompanhávamos aquilo: aquele homem rebolando livre.

Poesia em 140 caracteres

Toda narrativa prescinde de um olhar, de um sujeito encarnado... e todo olhar é uma narrativa. Vejo e constato: é preciso ser o narrador da própria vida.

Quetim...

(Miguel em pesadelo)
Homem de Branco (com um chicote) - Não! Cuidado, meu fi. Faça isso não, mofi.
Miguel - É o quê que é? Fazê o quê Paivei? Quê queutô quereno fazer?
Homem de Branco - Isso que essa cabecinha sabida tá pensando aí, mofi. Paivei sabe que mofi tá pensano ni fazer. E Paivei num vai dexar mofi fazê essas coisa. Faça isso que vósmicê quer fazer não, mofi... Faça não, mofi.
Miguel - E o que é que é que eu to querendo fazê, paivei? Vosmicê tem sabença disso é? Então é fazer o quê? E mais... porquié que devo fazer não? Hun, Paivei?
Homem de Branco - (Bate o chicote insandecido) Cadê a vergonha, minino? Hun!? (Pausa. Silêncio) Ponha a vergonha na cara, ponha, mofi. Cadê as maneira, minino? Hun? É esse seu modo e maneira dilibertinagin véa passarinheira? É esse seu modo e manera di ser feliz infeliz desinfeliz qui nem se desse conta di quanto?Quede us custume do povo de vossuncê, mofi? Hun? Oh, mofi, (traz o menino ao colo e lhe acarecia, ninando) manhãzinha, derna de cedo, manhã quando nois acordar, sabe quem vai tá aí? Ela mofi a filicidade. (Excitado) É, mofi! Ela vai chegar toda lustrosa, bunita, dengosa e vai disabar sobre os home*. (Lúcido de sua persuasão) Faça nada não, meu filho. Fica aqui, olha, dorme quetim, meu filho. (ninando) Quetim. Quetim. Queti. Quet. Que. Qu. Q... Sussussussussu... oia a felicidade, oia a felicidade. (Excitadíssimo) Oia, mofi, oia... oia aqui. Oia. Acorda, mofi. Abri us oin, abre, mofi, abre us oin.
(Miguel acorda assustado)

*citação: "Menina amanhã de manhã" Tom Zé e Perna

terça-feira, 14 de junho de 2011

Esperando Godot




Tomou com acuidade seu melhor banho.
Lavou-se com carinho.
Perfumou-se todo, enfeitou o corpo e adoçou o pensamento...
Estava ali, à meia-luz.
Esperando a hora da chegada de sua felicidade pelo portão.

Amor Azul ou voo de borboleta



Era um amor desses azuis,
dos que não precisam de muito verbo.
Era um amor desses azuis,
calmos e cálidos, de companhia doce, forte e segura.

Era um amor desses azuis,
de não se acabar mais nunca,
de se sentir perto, mesmo quando se está longe,
de se sentir seguro, mesmo correndo riscos,
de se sentir assim: leve.
De certo que dava um trabalho, manter a serenidade leveza desse amor,
Não era fácil, mas era o preço.

Era um amor de provocar revoluções íntimas.
Revoluções com bandeiras azuis.
Mas era sempre sob a luz azul de uma grande lua cheia no quintal de casa que se iluminava claramente a que tinha vindo esse amor:
para provocar os voos das borboletas todas no peito.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sem pistas

Olhei em volta já no finalzinho - só constatei que realmente estava tudo errado - e como modo de render-lhe alguma misericórdia pensei:
- É, talvez seja 'eu' o problema. Devia pedir deesculpas.
Apenas pensei nessa subordinação, depois percebi que era puro delírio.
julguei-me péssimo.
Olhei outra vez em seus olhos, dei-lha um beijo de adeus e parti sem deixar rastro, perfume ou notícia.

Insensível

Me viu chorar soluçando.
Olhou pro lado, achou normal, fez um muxoxo e voltou a dormir o delicado e indiferente sonho dos anjos.

Diante de um vinho seco tinto

Me coloquei diante de uma grande adega....
Embriaguei-me o quanto pude...
Vesti meu vestido vermelho rendado...
Tomei todo aquele vinho dulcíssimo...
e dancei ciranda até o dia clarear...
Foi quando deu-se meu desencantamento.

A última canção

Era assim....
Cheio de agradecimentos.
A tudo agradecia,
Fazia o que fazia, mas davam-lhe os descontos.
Pediu a vez.
Ao invés de falar fez o que mais gostava de fazer... cantou.
Cantou e era aquele seu modo de dizer adeus.

Ausente

Na hora mais decisiva, quis tirar meu som da dor.
Era preciso coragem.
Busquei a dor - era golpe certeiro.
Falhei.
Cadê a danada?
A dor tinha sumido e levado tudo consigo embora.

Desmedidas

Eram dois cartoons. Eram dois bonitos, soltos na vida, cabelos cacheados, dourados cheios de fios zigzageando as cabeças pesadas. Sim, as cabeças pesavam aos dois... tinham esse senão: a cabeça não lhes estava em proporções com o resto do corpo. Era impressionante, as cabeças pareciam medir quase que o tamanho do resto do corpo inteiro. O desalinho provocava admiração a quem os via. As cabeças grandes e pesadas dificultavam o equilíbrio. Impossível manter a cabeça no lugar, de modo que as cabeças sempre estavam no mais das vezes quedadas ao chão sobre uma almofada confortável - para não machucar. Mas não ter a cabeça no lugar era sinônimo de solidão. Como não tinha a cabeça equilibrada sobre o pescoço não conseguiam manter um diálogo, uma comunicação. Não era possível aos dois entender-se nunca. Parecia pastelão de circo pobre com palhaços frágeis. Quando um estava com a cabeça equilibrada, estava o outro arrastando sua cabeça no chão. Era difícil manter as duas cabeças no lugar ao mesmo tempo. Era necessário um malabarismo tremendo de ambas as partes. Não era fácil conseguir. Manter as duas cabeças no lugar e além disso conversar... Impossível!
Tudo parecia muito difícil naquela situação. Olhavam-se sempre com ternura, mas, no fundo, sabiam: nunca poderiam dividir a mesma idéia juntos.
E até hoje continuam juntos e repetem-se as retóricas perguntas:
- Será que não? Porque não?

A lua me disse

De noite a lua me disse
- Há um perfume de jasmin no teu quintal.
E como se a lua mentisse
desconsiderei querer sentir o doce cheiro de flor.
Sabia que a tinhosa estava querendo apenas amolecer meu coração
com sua poesia brega, futil e boba (ou era como me soava?).

Uma faca

Havia.
Era uma faca amolada, grande, suntuosa...
Cortava bem e cortava tudo.
Talhe perfeito.
Havia nascido para aquilo, para ser faca....
Era essa sua vocação desde cedo.

Havia?
A faca morreu?
!

Para longe

Foram levados para longe, do lugar, e um do outro.
Os dois estavam fadados à isso...
Dormiriam... cada um em seu exílio.

Um grito

Não dava mais para argumentar... queria ganhar a discussão no grito, urrou nervoso, feroz e arisco qual um leão:

- Hurrrrrr!

Houve um breve silêncio. Respondi-lhe pouco depois:

- Quer uma água com açúcar? Um suco de maracujá? Um chá de camomila? Um doce? Me diga.

Silêncio sepulcral, como um grito suspenso no ar.

Quem estaria precisando de um chá? Quem responderia?