O que há pra hoje?

POESIA COLABORATIVA
Suor. Espaço de exercício poético e livre escrita...

sábado, 11 de fevereiro de 2012

E quanto aos senhores policiais?





Foi bastante curioso observar como a polícia lidou com os mesmos ataques que a sociedade civil lida sempre que se engaja numa ação contestadora ao Estado

Opressão social; o ataque da contra-informação lançado pela mídia a fim de marginalizar o movimento diante da opinião pública, amedrontar os militantes e confundir as ações do movimento; a opressão armada das forças militares; a coação legalista com ameaças de prisão e por fim o corte de salário e a ameaça de exoneração; são armas há muito tempo usadas pelos agentes do poder  independente do rótulo partidário que estejam usando.

Bem vindos! Vocês que achavam que o titio Estado manteria relações amistosas com vocês –afinal sois seu braço armado- viram a truculência, as ações discricionárias e a força de opressão que os agentes do poder são capazes de lançar contra qualquer um que os conteste.

E olhe que suas reivindicações eram estritamente de interesse de sua categoria, reivindicações conciliatórias e meramente salariais  que em nada questionavam suas condições de trabalho e os moldes de sua intervenção na sociedade.   

As conquistas de uma mobilização estão para além dos acordos e gratificações que os militantes recebem como cala a boca. Talvez a maior conquista desta greve, senhores, foi  demonstrar a todos o tamanho da força política desta categoria. Que outra categoria em greve conseguiria a paralisação e imobilidade social que conseguiu a polícia militar da Bahia? Quem mais conseguiria este feitio?


Não ficamos inseguros - a polícia nunca nos foi nenhuma garantia de segurança, sejamos honestos -, sentia-mo-nos indefesos, o que é diferente. Em nome da "indefesidão" fizeram-se especulações,arrastões, assaltos, roubos, latrocínios, homicídios e crimes de toda ordem. Houve até quem sempre tendo mantido regime de retidão e obediência a lei se aproveitou da "indefesidão" para burlar a lei um tantinho, se aproveitando do caos de Salvador para tirar proveito de um ou outro eletrodoméstico que, com pressa e descuido, um arrombador de comércio tivesse deixado perder-se no caminho de casa ou até mesmo dentro das próprias lojas. De outro modo: é o caso de dizermos tratar-se de um cidadão transformado em ladrão, ou de um cidadão que com o caos instaurado apenas momentaneamente ladronizou-se? Ou mera oportunidade de  (que mesmo sem consciência disso) um cidadão – trabalhador-operário – ambulante – biscateiro  tomou para si aquilo que é seu e lhe é negado. Não serei eu a julgá-lo e fica aí  a questão.


E num caminho tortuoso, como a desta greve da PM BA, perdem-se às vezes, também, as estribeiras.

Muitos dos efeitos da mobilização dos senhores policiais se fizeram sentir logo de imediato:  Lojas comerciais e bancos fechados (afinal todos sabemos que é a estes que a instituição em que os senhores trabalham realmente protegem), ônibus paralisados, sentimento geral de insegurança, reação agressiva do Estado e... medo.

Medo.
 
Uma sensação que dá nas vísceras de qualquer ser humano. Um sentimento coletivo que cresceu, tornou-se pânico, pavor e morte.

Uma mobilização de uma corporação politicamente alienada, desorganizada e assumidamente reacionária. Uma mobilização completamente ilegal ( para não esquecer que o Estado Brasileiro vem se especializando em tornar crime mobilizações e contestações), com causas absolutamente legítimas, mas que fere um acordo social que está associado à manutenção da paz e do bem. Cruel encruzilhada de exus frondosos no pensamento de quem, distante, ainda que fosse na Bahia, mas refugiado em casa, atentamente observava.

X: Eita que este caminho de greve da classe policial podia desdobrar-se num golpe do destino, num revés.

Y: Já pensou se o povo, se a gente toda encontrasse um modo de se defender, assim, mutuamente, sem carecer depender?... depender?... ser dependente? Já imaginou uma segurança sem polícia, uma segurança da gentileza e da liberdade?

X: Mas como? Porquê estes manifestantes tiveram uma mobilização show business, enquanto outras classes tem intervenções fantasmas?

Y: Porque estes manifestantes carregam armas, armas legalmente portadas.

X: Poder. Um poder que tem uma origem simples: uma arma. O manifestante grita, milita, brada, reclama. O manifestante discursa, reflete, analisa rigorosamente sua prática, identifica lacunas e as transforma em propostas para o Estado. O manifestante faz greve. Tragédia, terror, caos. O manifestante, de um estado, mobiliza a imprensa do país inteiro. Mais. O manifestante mobiliza a imprensa internacional - que diga-se de passagem faz o que quer com a informação que colhe das ações do manifestante. Um estupor. Foi isso que causou, na população, o manifestante.

Y: Enquanto isso, eu, refugiado em casa, aproveitava para fazer o exercício do cuidado de si. Enquanto isso, lia a entrevista da primeira dama da Bahia para a FOLHA DE SÃO PAULO, em plena vigência greve da PM BA, revelando seus planos que pretendiam proporcionar a ela e seu esposo, o governador da Bahia, dois dias de carnaval no sambódromo do Rio de Janeiro, conferindo o desfile da Portela - que este ano homenageia a Bahia - e de outra escola de samba que terá Jorge Amado como motivo carnavalesco. Ironica contradição instituída.

X e Y: (sussurra) Mas eu cá, cultivadora de utopias que sou, espero que a médio prazo esta Greve venha a provocar  um amadurecimento político em vocês,  no trato com militantes de outras categorias que assim como vós  optam por greves, ocupação de prédios públicos e passeatas como instrumentos de luta.

UMA MENININHA SEM LETRA: (cantando) Instrumentos de luta!

X: (perguntando como um X qualquer) Como será que, a partir de agora, a polícia militar da Bahia se comportará nas rotineiras investidas em segurança que fazem em manifestações grevistas - suicidas - de outras corporações ou classes? Eis a questão. Aguardemos vigilantes e atentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Espaço de poiesis, de criação;;; comente, amplie, revise, sugira... plasmando a voz de Errante Trovador. Prefira identificar-se, pois preferimos cultivar as relações e colher parcerias no caminho. Agradecemos a atenção.