Foi bastante
curioso observar como a polícia lidou com os mesmos ataques que a sociedade
civil lida sempre que se engaja numa ação contestadora ao Estado
Opressão
social; o ataque da contra-informação lançado pela mídia a fim de marginalizar
o movimento diante da opinião pública, amedrontar os militantes e confundir as
ações do movimento; a opressão armada das forças militares; a coação legalista
com ameaças de prisão e por fim o corte de salário e a ameaça de exoneração;
são armas há muito tempo usadas pelos agentes do poder independente do rótulo
partidário que estejam usando.
Bem
vindos! Vocês que achavam que o titio Estado manteria relações amistosas com
vocês –afinal sois seu braço armado- viram a truculência, as ações
discricionárias e a força de opressão que os agentes do poder são capazes de
lançar contra qualquer um que os conteste.
E
olhe que suas reivindicações eram estritamente de interesse de sua categoria,
reivindicações conciliatórias e meramente salariais que em nada
questionavam suas condições de trabalho e os moldes de sua intervenção na
sociedade.
As
conquistas de uma mobilização estão para além dos acordos e gratificações que
os militantes recebem como cala a boca. Talvez a maior conquista desta greve,
senhores, foi demonstrar a
todos o tamanho da força política desta categoria. Que outra categoria em greve
conseguiria a paralisação e imobilidade social que conseguiu a
polícia militar da Bahia? Quem mais conseguiria este feitio?
Não
ficamos inseguros - a polícia nunca nos foi nenhuma garantia de segurança, sejamos
honestos -, sentia-mo-nos indefesos, o que é diferente. Em nome da
"indefesidão" fizeram-se especulações,arrastões, assaltos, roubos,
latrocínios, homicídios e crimes de toda ordem. Houve até quem sempre tendo
mantido regime de retidão e obediência a lei se aproveitou da "indefesidão"
para burlar a lei um tantinho, se aproveitando do caos de Salvador para
tirar proveito de um ou outro eletrodoméstico que, com pressa e descuido, um
arrombador de comércio tivesse deixado perder-se no caminho de casa ou até
mesmo dentro das próprias lojas. De outro modo: é o caso de dizermos tratar-se
de um cidadão transformado em ladrão, ou de um cidadão que com o caos instaurado
apenas momentaneamente ladronizou-se? Ou mera oportunidade de (que mesmo sem consciência disso) um cidadão –
trabalhador-operário – ambulante – biscateiro tomou para si aquilo que é seu e lhe é negado.
Não serei eu a julgá-lo e fica aí a
questão.
E num
caminho tortuoso, como a desta greve da PM BA, perdem-se às vezes, também, as
estribeiras.
Muitos
dos efeitos da mobilização dos senhores policiais se fizeram sentir logo de
imediato: Lojas comerciais e bancos fechados (afinal todos sabemos que é
a estes que a instituição em que os senhores trabalham realmente protegem),
ônibus paralisados, sentimento geral de insegurança, reação agressiva do Estado
e... medo.
Medo.
Uma
sensação que dá nas vísceras de qualquer ser humano. Um sentimento coletivo que
cresceu, tornou-se pânico, pavor e morte.
Uma
mobilização de uma corporação politicamente alienada, desorganizada e assumidamente
reacionária. Uma mobilização completamente ilegal ( para não esquecer que o
Estado Brasileiro vem se especializando em tornar crime mobilizações e
contestações), com causas absolutamente legítimas, mas que fere um acordo
social que está associado à manutenção da paz e do bem. Cruel encruzilhada
de exus frondosos no pensamento de quem, distante, ainda que fosse na Bahia,
mas refugiado em casa, atentamente observava.
X:
Eita que este caminho de greve da classe policial podia desdobrar-se num golpe
do destino, num revés.
Y: Já
pensou se o povo, se a gente toda encontrasse um modo de se defender, assim,
mutuamente, sem carecer depender?... depender?... ser dependente? Já imaginou
uma segurança sem polícia, uma segurança da gentileza e da liberdade?
X:
Mas como? Porquê estes manifestantes tiveram uma mobilização
show business, enquanto outras classes tem intervenções fantasmas?
Y:
Porque estes manifestantes carregam armas, armas legalmente portadas.
X: Poder.
Um poder que tem uma origem simples: uma arma. O manifestante grita, milita,
brada, reclama. O manifestante discursa, reflete, analisa rigorosamente sua
prática, identifica lacunas e as transforma em propostas para o Estado. O
manifestante faz greve. Tragédia, terror, caos. O manifestante, de um estado,
mobiliza a imprensa do país inteiro. Mais. O manifestante mobiliza a imprensa
internacional - que diga-se de passagem faz o que quer com a informação que
colhe das ações do manifestante. Um estupor. Foi isso que causou, na população,
o manifestante.
Y:
Enquanto isso, eu, refugiado em casa, aproveitava para fazer o exercício do
cuidado de si. Enquanto isso, lia a entrevista da primeira dama da Bahia para a
FOLHA DE SÃO PAULO, em plena vigência greve da PM BA, revelando seus planos que
pretendiam proporcionar a ela e seu esposo, o governador da Bahia, dois dias de
carnaval no sambódromo do Rio de Janeiro, conferindo o desfile da Portela - que
este ano homenageia a Bahia - e de outra escola de samba que terá Jorge Amado
como motivo carnavalesco. Ironica contradição instituída.
X e Y: (sussurra) Mas
eu cá, cultivadora de utopias que sou, espero que a médio prazo esta Greve
venha a provocar um amadurecimento político em vocês, no trato com
militantes de outras categorias que assim como vós optam por greves,
ocupação de prédios públicos e passeatas como instrumentos de luta.
UMA MENININHA SEM LETRA: (cantando) Instrumentos de luta!
X: (perguntando como um X qualquer) Como será que, a partir de agora, a
polícia militar da Bahia se comportará nas rotineiras investidas em segurança
que fazem em manifestações grevistas - suicidas - de outras corporações ou
classes? Eis a questão. Aguardemos vigilantes e atentos.
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