Quem é o fake de Deus?
que dança entre os sexos
Nem medos.
E como é forte e feminino o coração de Deus.
Quem é o fake de Deus?
- Tá bom!
- O quê?
-Tá bom, pra mim.
- Tá bom em que medida? Tá bom em que tamanho pra você?
- Tá bom, na medida da minha cabeça e do meu caminho.
Eu, no meio destas mulheres lindas, que vivem de espalhar encanto, tenho é de ir cuidando do meu peito.
Eis a sutil arte de se deixar cativar e ter partido o coração.
Prática não inerente a um romântico de amores profundos.
Mas o que se pode fazer em tempos de amores líquidos, tempos-superfície onde não se envolver é norma?
Se não é mais possível tê-los, os amores profundos.
E se já não há mais espécimes de amores perfeitos.
No meu jardim vou cultivar levezas.
É tempo de homens sem vínculos capazes de apertar os laços e mantê-los frouxos.
É tempo de confundir leveza com falta de envolvimento.
É tempo do imediato, da falta de construção e da falta de cultivo.
É tempo da ausência.
É tempo de relações de bolso, das que se pode dispor quando necessário e depois se guardar.
É tempo de chamar tudo de amor e não haver amor em nada.
É tempo de extinção dos bobos sentimentos sãos.
E eu, extemporânea a este tempos líquido, sou livre e tenho um Norte.
Então viver é isso:
(em enlevo e prazer) Vivemos todos os outros momentos para viver esses...
Tensões que vazam em relaxamentos.
A vida é um acorde de quinta, com sétima,
que resolve-se na fundamental, com a terça na soprano.
Sol Fá Dó Mi
Sol Fá Do Mi
Por mais aguçado que seja meu faro, nunca decifrei qual era o perfume dele. Sei que vivia tendo de dizer coisas inteligentes. Era uma excelente companhia, sempre convidado para os encontros de amigos de festa. Contava piadas, falava amenidades, preenchia a noite.
Quando em público sempre buscava parecer contente (e talvez fosse de fato), mas nunca teve certeza se conseguia. A tentativa era tão artificial e parecia ser tão não-ele que talvez fosse mais legitimo se cortar com uma lâmina, abrir na cara um sorriso permanente. Talvez.
Oxalá demonstrasse ter fibra, resultaria mais autêntico. Mas não. Era sempre a busca. A busca de ser original, a busca de ser engraçado, a busca de dizer a última palavra, a busca de parecer mais arejado, de ter o discurso no tom. Só posso afirmar que sofria - isso com certeza. Mas gostava do sofrimento, estava já afeiçoado a essa sensação (que já não julgava nem boa nem má, apenas ossos do oficio) de se procurar e sempre se esconder na máscara mais agradável. Vivia dessa busca, nessa dúvida. E perfumava de dúvida o mais nobre aroma de jardim.
Mas não há saída: as coisas tem o cheiro do que são.
Eu que, triste sempre olhava pra ele e o julgava fake demais, percebi que talvez fosse apenas um problema da minha interpretação ou de minha aceitação. Me faltava a medida poética para entender as irritantes amenidades daquele homem cordial.
Quando a vi pela primeira vez não pude imaginar,
Afinal aquelas roupas largas,
os gestos brutos
a feição casmurra,
quem adivinharia quem ela era?
Ela dizia que dançar era como voar
E que estas duas ações eram seus grandes e irrealizáveis desejos:
Não dançava e tinha medo de altura.
Era um desengonço só.
Quando entendi o problema
Nem foi tão difícil convencê-la
fiz isso com meu corpo
Dancei. Ela me viu dançar.
Viu que para dançar bastava ter pés,
Bastava ter música,
Bastava ter ar.
Dançou também comigo e flutuou música,
cometeu crimes contra as leis da gravidade... voou alto.
Por fim... perdeu todos os medos.
Aprendeu com a vida.
Sem grana
Sem trampo
Sem planos
Sem namorada
Sem drogas
Sem rumo
Sem chão
Sem saco
Sem tempo
E por mais que eu perdoe o mundo
ele não perdoa
Não sede em sua aspereza.