O que há pra hoje?

POESIA COLABORATIVA
Suor. Espaço de exercício poético e livre escrita...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Menino Miguel*

(Para o povo, ao lado da fogueira) I Deus? (com acento) Deus é quein, é? (sem acento) Deus é quein aquele povo diz que é? (Político) Me diga meu povo, me diga! (Onomatopéico) Su-su-su... (em transe hipnótico) Apois... esse Deus que inhessa igreja fala é um minino grande. Mas é de tudeza... Uma luiz vermelha qui cega, qui seca, qui açoita... qui num deixa nois inxergar indireito as coisa. Inhesse num é Deus não. (enfático) Não. (Outro tom, convencido) Não qui eu tenha sabença de tudo. Nem se euzim aqui quisesse, eu tiria. Por que num inxiste esse homem que tem sabença de tudo, minha gente! Será? Pense vosmicê aí. (Onomatopeico) Su-su-su... Oia, meu povo: Deus tá é nas pessoa, nas coisa que as pessoa faz, na terra, no arado, no aruvai, no barro da gamela véa, no catre surrado... Deus tá ni tudo. I ele quêr tudo surrino. (Uma gargalhada de 20 segundos que cresce gradativa e sincopada).

*Menino Miguel é uma criança de sete anos que vive no sertão da Bahia, tem educação moçarabe, e sabenças milagrosas. Tá a frente de um movimento separatista sertanejo. Experimentos dramatúrgicos para Miguel - histórias sertânicas oficiosas.

2 comentários:

  1. "enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: sera apenas o meu modo de me acusar...enquanto eu inventar Deus. Ele não existe"
    Clarice Lispector

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