Antoin José era menino surdo.
Tomava todo tipo de remédio caseiro que o povo fazia...
Nada dava jeito. Não havia modo nem maneira que fizesse o menino curá.
Em casa, com cuidado e zelo, Antoin Zé guardava uma farmácia completa, muito bem escondida num das banda do armário veio esculhachadim, que só.
Era tanto remédio vindo da cidade pra casa de Zé, que ninguém sabia como aquilo tudo era tomado, pois que num era possíve que existisse alguém que se ocupasse de tomar tanto remédio. Uns remédio gordo, luzido, parecendo uns pavão até no nome.
Pudera, semelhante de ser o nome dos remédio ingual artista americano.
O povo dizedor falava, na boca miúda, que Antoin tinha umas forma estranhafobética no jeito de ser dele. O modo de ser da pessoa. Sua vidinha de desgracença era até boa, mesmo com toda doença. Uma vidinha véia calada, atristezada de aconticimento.
Lá em "Novo Horizonte" vivia todo mundo assim, um meio atristezada com um meio feliz.
De uma vez por outra, Antoin Zé tomava umas razão de doidiça, que lhe causava um tengo do relengotengo... Tomava alguma coisinha besta, escondido, na moita, e depois parecia relaxado num sofá véio, esperando a hora de endoidar.
Ficava uma renca de hora ali: um pedaço de corpo jogado no mundo.
Com o tempo Antoin Zé deu foi de ficá na janela. Apois que ele ficava na janela, estendido no tempo, olhando o tempo passar:
Um homem....
Um cachorro... .
Um burro vai...
Um cachorro... .
Um burro vai...
Uma vaca vai devagar.
Tudo devagarzinho.
Doido, doido de pedra noite e dia, sem o menor pudor, dispudorado que era. Tava sempre lá. No batente da janela:
Um homem....
Um cachorro... .
Um burro vai...
Um cachorro... .
Um burro vai...
Uma vaca vai devagar.
Tudo devagarzinhozinho.
Foi num dia desses, de descanso janelística, que teve seu primeiro gozo sonoro. Transformou as imagens das passadas do bichos lá fora em células ritmicas que lhe sugeriam uma cor e um som. Cada passada era uma duração toda especial. Para cada movimento havia batidas com timbres diversos, intensidades e alturas diversas. Era como se cada passada de bicho tivesse se transformado numa dança/som de ritmo riquíssimo... uma dança do som.
Ia todo dia para a janela e descobriu o que lhe viciara: era o mundo dançando lá fora. E assim, Antoin Zé ouvia... ouvia a música da dança que o mundo faz.
Tudo o que até hoje escuta. Antoin Zé consegue ouvir. Só música... Ser platéia exige um esforçozim grande do cidadão...
Queimou toda a farmácia e nunca mais usou remédio. Agora Toin Zé se colocava a ouvir música todo o dia, o dia todo, todo o dia, o dia todo, todo o dia.
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