Por mais aguçado que seja meu faro, nunca decifrei qual era o perfume dele. Sei que vivia tendo de dizer coisas inteligentes. Era uma excelente companhia, sempre convidado para os encontros de amigos de festa. Contava piadas, falava amenidades, preenchia a noite.
Quando em público sempre buscava parecer contente (e talvez fosse de fato), mas nunca teve certeza se conseguia. A tentativa era tão artificial e parecia ser tão não-ele que talvez fosse mais legitimo se cortar com uma lâmina, abrir na cara um sorriso permanente. Talvez.
Oxalá demonstrasse ter fibra, resultaria mais autêntico. Mas não. Era sempre a busca. A busca de ser original, a busca de ser engraçado, a busca de dizer a última palavra, a busca de parecer mais arejado, de ter o discurso no tom. Só posso afirmar que sofria - isso com certeza. Mas gostava do sofrimento, estava já afeiçoado a essa sensação (que já não julgava nem boa nem má, apenas ossos do oficio) de se procurar e sempre se esconder na máscara mais agradável. Vivia dessa busca, nessa dúvida. E perfumava de dúvida o mais nobre aroma de jardim.
Mas não há saída: as coisas tem o cheiro do que são.
Eu que, triste sempre olhava pra ele e o julgava fake demais, percebi que talvez fosse apenas um problema da minha interpretação ou de minha aceitação. Me faltava a medida poética para entender as irritantes amenidades daquele homem cordial.
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