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POESIA COLABORATIVA
Suor. Espaço de exercício poético e livre escrita...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Carta à um amor líquido - ou outro caso do vestido

Meu Benzinho...
Ontem descobri rastros de sua infidelidade.
No notebook, no sms do celular, nas faturas do cartão de crédito.
Fui só tristeza profunda.
Saí pensando na morte, mas a morte não chegava.
Andei pelas cinco ruas, passei ponte, passei rio, não comia, não falava.
Tive uma febre terçã, fiquei de cabeça branca, perdi meus dentes, meus olhos, lavei-me*.
Lavei-me tentando tirar de mim qualquer vestígio de teu corpo.

Meu Benzinho...
Hoje redescobri rastros da minha infidelidade.
Um perfume no ar, a barba feita, argolas novas nas orelhas.
Fui só ninguendade profunda.
Saí pensando na vida, e a vida estava em qualquer esquina que se olhasse. Ali. Ávida, essa vida.
Perfumei-me de Carmim, vesti as vestes mais ardis e provocantes. Entreguei-me aos meus amantes.
Tive uma febre terçã, lambi-lhes cabeça, dentes e olhos, lavei-os de saliva lasciva.
Lavei-me depois, tentando encontrar em mim os vestígios do meu próprio corpo.
Tarefa vã. Não encontrei meu corpo em mim. Me olhava no espelho, mas só via você. Você. Você.

De um lugar qualquer, num 24 de março frio e cinza.

*Citação de e dedicada à Drummond

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