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POESIA COLABORATIVA
Suor. Espaço de exercício poético e livre escrita...

sábado, 11 de junho de 2011

Ateliê vazio

O menino era artista do simulacro desde cedo,
desde cedo era assim... ator.
Cantava, dançava, rebojava ao som mais leve de atabaque, cuica ou carron.
Nasceu e desde que se deu por gente se pôs a criar o que chamava de "primma obra".
Criação que duraria o tempo de toda sua vida.
Passava os dias assim... ilhado numa sala de ensaio, trancado e criando só.
Cresceu: muleque, menino, rapaz, jovem, moço, homem, senhor, senhorzinho, iô.
O tempo não lhe fora suficiente.
Não conseguiu terminar de criar sua performance, de terminar sua obra prima.
Seu espetáculo morreu com seu corpo, sem estréia.
E hoje, o mundo inteiro tenta, descobrir o que o artista fazia trancado só a vida inteira em seu ateliê de criação.

Não se deu conta:
1. De que a arte é também um ofício, e de que a divisão artista artesão foi superada;
2. De que o teatro é uma arte coletiva;
3. De que a simplicidade e a falta de pretensão são bálsamos do artista;
4. De que o talento é um nome que deram às facilidades que alguns indivíduos tem mas que a disciplina e a rotina constroem com precisão em qualquer um que se permita;
5. De que a arte é a descrição de fotografias tiradas da vida quando ela mostra sua fragilidade ao baixar a guarda*.

E hoje, aquela sala, que já foi templo, é apenas um ateliê vazio.


* Tom Zé

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