Meu benzinho era assim...
avesso.
Não gostava de me ouvir cantar achava minha voz estridente,
nem de ler minhas poesias gostava, as julgava pobres... aquelas escritas no velho e pequeno caderninho azul.
Não gostava de me ver em cena, soava sempre canastrão, desmedido.
Não colocava fé nenhuma em minha dança - me julgava desengonçado - qualquer parceiro era um parceiro mais altivo.
Não suportava me ouvir falando de filosofia, da arte, ou do cotidiano - parecia sempre um discurso hermético e demasiado confuso.
Meu benzinho era assim...
avesso.
Se eu abria um vinho - era um beberrão,
se a vida estava tediosa - reclamava de barriga cheia.
Se eu comia muito - estava gordo,
se eu comia pouco e praticava exercícios - estava mentindo pra mim mesmo que conseguia emagrecer.
Se me entorpecia - era fuga, me julgava fraco para dirimir os problemas.
Se eu resolvia os problemas - podia ter feito de outro modo, mais inteligente, mais econômico, menos trabalhoso.
Era esse todo o desalinho: uma falta de querer bem, uma falta de tudo.
Chutei o pau da barraca, meti o pé na porta:
Mandei o escroto tomar no cu, se fuder e dar conta de sua própria vida.
Dei um pé na bunda de meu benzinho e fui viver minha vida, leve como pipa, como pluma.
sinto que eu poderia ter escrito isto! ou algo parecido, adorei! " fui viver minha vida leve como pluma"
ResponderExcluirnossa muito bom,me indentifiquei com esse poema.
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