O mundo não tem o menor pudor.
Vive por aí, de pernas abertas, obsceno, lascivo, arreganhado sem a dignidade de uma puta.
O mundo é vil... torpe...
Mas a puta? A puta merece aplauso redenção.
Me disse outro dia Gilberto Gil - guru dos tempos - numa feijoada ao violão:
O tempo não tem pudor. Não tem o mínimo de polidez, esse safado.
O tempo é vil...
Não preciso do tempo. Mas ele me fita com um sorriso doce, dengoso e erótico nos lábios.
Quer me comer, me atravessar.
O tempo é uma puta.
Vive de pernas abertas por aí. E cobra caro.
Cobra muito caro pelas seçoes de atravessamento e penetração.
Não quero o tempo enquanto peso.
Não quero o tempo enquanto meço.
Não quero o tempo me apontando o dedo para sua balança.
Pronto pra fazer a cobrança, querendo me coagir, enlouquecer.
Respeitai os tempos!
Respeitai meus tempos!
Os tempo de só ser.
E há sempre um enigma no ar, uma verdade para ser dita, uma meia-verdade escondida.
E o princípio da verdade? Não há.
No tempo só há simulacro de revolução.
É o máximo que conseguimos.
Por fim...O tempo deixou-me plantado aqui, aqui onde o tempo é outro, onde o tempo é oco, onde o tempo é vão...
O presente do passado, o presente do presente, o presente do futuro.
Decidi: "Pronto! Me coloco à disposição, à disposição do tempo para ser sua esposa, amante, mulher. Sempre aberta, com pernas de virgem"...
Eis meu tempo, um tempo narrativo.
Um tempo doido pra deixar meu verbo rebolar.