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POESIA COLABORATIVA
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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Norma - dançarina ou performer

Norma era menina, pobre, negra, sul-americana, brasileira, nordestina, baiana do interior da Bahia.
Norma ouviu dizer que vivia no terceiro mundo.
Ficou preocupada.
Mas também ouviu Lenine dizer que a Terra toda era terceiro mundo, afinal era o terceiro planeta do sistema solar.
E acalmou-se.

A Norma era do mundo.
O mundo é grande e pequeno, como para Drummond.
E a Norma sabia que no mundo tudo era lícito.

Pra Norma, tudo no mundo lhe dizia respeito.
Se emocionava com a florzinha 11 horas do jardim da pracinha de sua cidadezinha do interior.
Se emocionava com a Sinfonia nº9 de Beethoven.
Se emocionava com a sapiência de sua avó analfabeta, dona de ervas, garrafadas e chás.
Se emocionava com a Edunia, bioarte de Eduardo Kac.
Se emocionava com os meninos com fome na rua.
Se emocionava assim: sem preconceitos, fora do tom, sem melodia.
A coerência dos rótulos parecia não fazer o menor sentido.

Norma virou bailarina.
Seu sonho era dançar fora, sair do país, representar o Brasil.

O governo da Alemanha havia proibido a dança em praça pública.
Norma viajou para um protesto.
Dançou em Frankfurt, em praça pública, rodeada de jovens.
Contra proibições e rótulos. Contra a determinação de que o povo não dançasse.
E Norma Dançou, Dançou muito. Dançou até morrer.
Descobriu-se performer no último dia de vida.
Sua dança era política, era protesto.

A Norma morreu feliz.
Sua missão era essa:
Fazer dançar preconceitos, tabus e bobas proibições.

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