Norma ouviu dizer que vivia no terceiro mundo.
Ficou preocupada.
Mas também ouviu Lenine dizer que a Terra toda era terceiro mundo, afinal era o terceiro planeta do sistema solar.
E acalmou-se.
A Norma era do mundo.
O mundo é grande e pequeno, como para Drummond.
E a Norma sabia que no mundo tudo era lícito.
Pra Norma, tudo no mundo lhe dizia respeito.
Se emocionava com a florzinha 11 horas do jardim da pracinha de sua cidadezinha do interior.
Se emocionava com a Sinfonia nº9 de Beethoven.
Se emocionava com a sapiência de sua avó analfabeta, dona de ervas, garrafadas e chás.
Se emocionava com a Edunia, bioarte de Eduardo Kac.
Se emocionava com os meninos com fome na rua.
Se emocionava assim: sem preconceitos, fora do tom, sem melodia.
A coerência dos rótulos parecia não fazer o menor sentido.
Norma virou bailarina.
Seu sonho era dançar fora, sair do país, representar o Brasil.
O governo da Alemanha havia proibido a dança em praça pública.
Norma viajou para um protesto.
Dançou em Frankfurt, em praça pública, rodeada de jovens.
Contra proibições e rótulos. Contra a determinação de que o povo não dançasse.
E Norma Dançou, Dançou muito. Dançou até morrer.
Descobriu-se performer no último dia de vida.
Sua dança era política, era protesto.
A Norma morreu feliz.
Sua missão era essa:
Fazer dançar preconceitos, tabus e bobas proibições.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Espaço de poiesis, de criação;;; comente, amplie, revise, sugira... plasmando a voz de Errante Trovador. Prefira identificar-se, pois preferimos cultivar as relações e colher parcerias no caminho. Agradecemos a atenção.