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POESIA COLABORATIVA
Suor. Espaço de exercício poético e livre escrita...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Predestinação Profana - O Espectador

Havia um homem, João, excelente pagador, exímio que só.

João gostava de pagar por sexo.
Não havia nenhum estranhamento nisso.
Não era exatamente sexo, era um não-sei-quê de pedir o garoto de programa para se masturbar gozar em sua frente. João, contemplativo, apenas fitava o pobre em sua cena erótica. Podia ficar horas ali.
Às vezes até filmava, apenas para registro, para ver depois e lembrar de como havia sido bom espectar.
O meninO/qualquer oferecia seu corpo a João, dispunha seu corpo para servir, para estar a serviço.
Era justo.

João calculava sempre o pagamento por merecimento.
Se o gozo fosse jorro - grana, muita grana, todo o ordenado.
Se o gozo fosse flácido - o pró-labore simbólico devido.

Tinha prazer em investir seu dinheiro em alegrias e incogruências.

João gostava de pagar para ir ao teatro, pagar por cena.
Não havia nenhum estranhamento nisso.
Não era exatamente o teatro como todos viam não, era um não-sei-quê de procurar peças undergrounds com pouca platéia, e assistir ao espetáculo quase que solidariamente na arquibancada. E quanto mais vazio o teatro, mais contemplativo estava João, admirador nato, apenas fitava os pobres atores em sua cena/sacrifício de atuar para platéia vazia.
João podia ficar horas ali.
Às vezes até filmava, apenas para registro, para ver depois e lembrar de como havia sido bom espectar.
O atOr/qualquer oferecia seu corpo, dispunha seu corpo para servir, para estar a serviço.
Era justo.

João pagava os ingressos (por mais caros que fossem), mas calculava sempre o pagamento extra por merecimento. Se a cena lhe fosse cara, sensível ia até a produção para dar mais dinheiro à peça.
Certa noite, João chegou a ir a pé para casa depois de doar, à um atOr/qualquer, todo o dinheiro que tinha.
Se o gozo estético fosse jorro - grana, muita grana, todo o ordenado.
Se o gozo estético fosse flácido - apenas o ingresso.

João tinha prazer em investir seu dinheiro em alegrias e incogruências.

João ganhava um salário mínimo como operário de um fábrica transnacional.
Gastava todo ordenado nas ludicências e vivia apenas de luz e água, alojado sob marquises e pontes.
Era seu destino. Parecia estar escrito. Havia nascido para ser platéia. Não podia fazer diferente.

Um comentário:

Espaço de poiesis, de criação;;; comente, amplie, revise, sugira... plasmando a voz de Errante Trovador. Prefira identificar-se, pois preferimos cultivar as relações e colher parcerias no caminho. Agradecemos a atenção.