O que há pra hoje?

POESIA COLABORATIVA
Suor. Espaço de exercício poético e livre escrita...

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Arte é construção

Arte é construção
Arte é construçã
Arte é construç
Arte é constru
Arte é constr
Arte é const
Arte é cons
Arte é con
Arte é co
Arte é c
Arte é
Arte é
Arte
Arte
Art
Ar
A

Que 2013 leve

a turma do cú pa lua
da rua
do pé na estrada
a turma do vambora
du tomara
maravilha
de luz

Que 2013 leve
Um axé graúdo

Ouvir Tatuarambá até deixar

Onde acabo

Não sei onde termino.
Não sei mais onde termino.
Só sei que não caibo em mim.
É o fim?
Que fatídico seria.
Triste sina e constatação.

Em cima da rede.
Embaixo da lua.

É isso.
Rizomas. Risadas de longe.
Vozes e coisas.
Falas algarávicas.

Som de sirene.
U~e~e~e~e~e~e~e~e~~~ONNNNNNNNNNN
A cidade cala.
Desesperada.

CORO DA CIDADE:
- Fala Poeta!

Poeta morre.
Morre e devém.
Morre e Transforma-se.

Conversa de bar após saber da morte de Geraldo Xavier

- E aquela cunversa de que o mundo ia se acabar era mentira pura.
- Nera não, moço. Ia acabar tudinho mesmo. Só que aí morreram os imortais pra salvar a humanidade.
- Quem?
- Oxe! Os partidos de 2012: Oscar Niemeyer, Hebe Camargo e Dona Canô.
- Hum! Tá explicado.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Alquimia 2: POST IT de fim de ano



POST IT DRUMONDIANO

O Primeiro amor passou,
O Segundo amor passou,
O Terceiro amor passou,
Mas o coração continua.


POST IT WALYANO

O Primeiro amor passou,
O Segundo amor passou,
O Terceiro amor passou,
Mas aí, agora, o coração parou.


POST IT CÉTICO

O Primeiro amor não passou,
O Segundo amor não passou,
O Terceiro amor não passou...
E o que era tudo, virou rastro, perfume, pegada, sinal, passagem, caminho.
Ou não.




De Ibirataia

Viado
De Ibirataia
Morre em Jequié na Rodoviária

Viado
De Ibirataia
Morre em Jequié na Rodoviária



Fino chegou!
Fino chegou na ensolarada Jequié
com seu look underground cult over pop
de paleta de cor furtacor.
G Magazine como estandarte na mão.
Uma bandeira gay em pleno sertão.
Só estava de passagem
E seguiria para as terras da planta que na língua arde.
Sentou-se com a suave elegância dos povos das tesouras
e com seus sujos olhos vermelhos
atrás dos óculos - máscara escura -,
com um relógio enorme de pino no pulso,
camisetinha amarela,
shortinho azul xadrez mostrando tudo,
pôs-se a folhear
sua revista sem o menor
pudor do devir de horror!


Viado
De Ibirataia
Morre em Jequié na Rodoviária

Viado
De Ibirataia
Morre em Jequié na Rodoviária



Ao ver aquela cena
Do viado tão culto e erudito
dedicado à leitura dos contos eróticos de sua revista/estandarte
"a cidade apavorada se quedou paralisada",
chocada com a cena de horror.
Um qualquer passante jogou a primeira pedra.
E outra. E outra. E outra.
Pedras a mancheia.
O coro dos contentes - ou coro dos enjeitados -
matava lentamente o viado com as pedradas/bigornas.
A cidade apavorada,
que nunca quis, perdoou ou respeitou
apedrejou a mona
em plena luz do dia
morreu o viado de Ibirataia,
em plena Jequié, na rodoviária.


Tornar-se adubo ou Grande Partida

ultimato
apita o juiz
é fim do jogo
é o ultimo adeus
é o trem das 11
o ato final
o fim sem retorno.

morrer não tem adjetivo
só é triste pra quem fica.


sábado, 29 de dezembro de 2012

De onde estiver, sinalize.

E quando perde-se alguém.
Não perda de morte.
Mas perda de perda mesmo.
Oh, meu São Lunguinho!

Como seria bom se todos os objetos e pessoas do mundo
vibrassem, tocassem - ou mesmo explodissem de uma vez com tudo - quando os perdêssemos e quiséssemos encontrá-los...
A tecnologia revolucionária do celular não nos deixa perdermo-nos - já não se perde nunca um celular na mão de um gnomo ou saci qualquer.
A incrível possibilidade de ligarmos para tudo que se perde
e poder re-encontrar o elã, elo qualquer perdido.

E quando perde-se alguém.
Não perda de morte.
Mas perda de perda mesmo.
Oh, meu São Lunguinho!

Enfim.
Quer saber de uma:
Some, mas, de onde estiver, sinalize!
...


Negligenciar

Confiar no tempo e negligenciar
pra mim: sinônimos.

Confiar no tempo e negligenciar
pra mim: sinônimos.

Tá até ventando em Jequié
o que é que é que é

Tá até ventando em Jequié
o que é que há quiçá que é

Tá até ventando em Jequié
o que é que há que é quer ir quer ou quero


Rainha dos raios
Rainha dos raios
Tempo bom tempo ruim

Rainha dos raios
Rainha dos raios
Tempo bom tempo ruim







quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Uma palavra a ser banida





WALY SALOMÃO:
- "Há dezenas de pessoas que falam que a palavra da língua portuguesa que não existe em outras línguas é “saudade”. Quer dizer, então, que eu quis realmente dinamitá-la Por isso eu estou me chamando de terrorista. Dinamitar um sentimento do senso comum tão estabelecido que chega até às raias da mitologia. As pessoas falam como se nenhuma outra língua tivesse uma palavra que exprimisse essa sensação. O que está longe de ser verdade, é uma grande mentira. Muitas outras línguas têm palavras que expressam uma sensação semelhante ao conjunto de sensações englobadas pela palavra “saudade”. Isso não é próprio do português, nem do brasileiro. Então, para que ficar amarrando a nossa burra, a nossa bula, o nosso cavalo nesse mourão da saudade portuguesa? Temos que inventar a mistura que deu no Brasil. Temos que inventar outras saídas bastante originais, fortes e enérgicas para o mundo."

Flumen - Palavra Destaque

Se não é pedra corredeira
estanca o rio.

E o rio é o rio
o rio
que corre e escorre
e flui
o rio desliza
derretidamente fluido
e flui e flui
um flumen corredor
correnteza
água corrente
água abundante
vertiginosa
fluidez, fluída, fluida
o rio
e rio, rio
um flumen trôpego pelas barradas das margens do rio
rio de fluidez
flumen
flumen
flumen

Ponto e Vírgula

eu te desejo;
eu te desejo;
eu te desejo
tudo de bom.


terça-feira, 25 de dezembro de 2012

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Horas do fim

21 de dezembro de 2012

Hoje, tudo o que é vivo pode...
e tudo que não pode acaba podendo também...
estão todos perdoados...
mesmo porque nunca huve mesmo pecado do lado de baixo da linha do
Equador!
Equador!
Eco a dor!

Realinhamento dos planetas.

22 de dezembro de 2012

E agora que o mundo não se acabou?
Fazer o quê? Surfar em ondas de leveza.
Estranho 2012 acabar sem acabar!
Fazendo um dred do outro lado da cabeça.
Gosto das assimetrias.
Mas ser simétrico, às vezes, cansa ou basta.
Enfim.
Curtindo rastros Salomônicos.
Acabo a dor!
Acabo com a dor.

Realinhamento de sistemas astrais.



23 de dezembro de 2012

Frustração!
Grande merda! Previsões frajutas e fraudulentas.
Olha a merda que podia dar
 um grupo terrorista desse
usar esse leit motive para barbarizar.
Ia estar tudo desculpado.
Fim? O fim do fim! Fim uma pinóia.
Seriamos muito privilegiados mesmo em assistirmos o fim dos tempos no planeta.
Que pretensão a nossa. Não é mesmo.
"Mas pelo menos uma tragediazinha devia acontecer!" um qualquer passante diz.
E volta a dor.
Voltador.
Voo tá d - o - r.

Realinhamento das cosmovisões e mundividência



P.S.: "Nada Acontece. Nada parece acontecer. Mas algo flui." Waly Salomão



quinta-feira, 20 de dezembro de 2012


Eutanásia




Quando quiser dar o fora em alguém seja claro
-Vaí!
 - Sai fora!
- Canta pra subir!
- Desempata!
-Se liga, perdeu play boy!
-Já era!
-Acorda!

É melhor, mais digno para com  o outro
mais saudável do que
sopro na ferida,
tapinha nas costas
ou promessas de futuro

Depois de atropelar  pernas e barrigas do gato, espalhar suas tripas pelo asfalto
Mais humano é passar logo, por cima da cabeça e acabar com tudo
Melhor do que assisti-lo agonizando.
Afinal, já que  a morte é certa
Desliguem os aparelhos

E  vá pra puta que a pariu com sua polidez e boas maneiras

(Ponto Final)


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

B - A - B - I - L - A - Q - U - E - S

Alguns cristais clivados:

Construtivista Tabaréu
De capim de Caboclo: Dramatização em cinco quadros em aberto

UNDER THE BARE TREE
UNDER THE BARE TREE
UNDER THE BARE TREE

Alterar
Caltdernaro
Altduplicadernaro

SOL CRU - No verão... é habitada por deuses

Torpedo suicida
Figuras Alpinas
Stride

As Mandíbulas do tubarão imperialista versus sombra chinesa

Santo Graálfico
Vertozigagens
Logbook

Mondrian Barato

Mar... E as sereias desaparecendo por falta de estímulos comerciais

no winterlúdio
Trying to grasp the subway graffitti's mood.

Brasily
Território Randômia

Coisa de Olavo Biócio

Por Puro Esporte

"nota de cabeça de página":
E "se o caso é chorar",
fazer, falar o que "me der na veneta..."
vou arregaçar com tudo nessa boca da noite:
- Eu curto o puro esporte por puro esporte!

"Um qualquer passante diz":
- Morrerei de calor em Jequié! Juro!

De mais a mais:
- Mas você nem curtiu, nem se permitiu, cara pálida!

Olhe mais de perto, sinta um pouco mais.
Permitir-se e não deixar-se atrapalhar... e não deixar-se atrapalhar... e não deixar-se atrapalhar... e não deixar-se atrapalhar...

Nota 01:
"SER AUTÊNTICO CONSIGO"

E aquele olhar doce (?) carne trêmula (?) desejo indócil (?) vontade (?) ardor (?) febre (?) e todo tipo de coisa que o valha (?).
Foi tudo nada?
"ALTERAR"
"ALTERAR"
"ALTERAR"

Frases Tom Zézianas:
"Mas o que é que amor tem a ver com moral e logística, menino!"
"É o caso de se perguntar: e agora, resta o quê?"

Nota 02:
"OS GRANDES POETAS SÃO COLOSSAIS"

Joga-se dentro.
Joga-se fora.
Jogo na vida.
Na arte.
Na trilha.
Na cama.
O jogo é voluntário.
O jogo é voluntário.
O jogo é voluntário.

"Um qualquer passante diz":

- "Perjuro! Serei Perjuro" de qualquer jura de amor que não couber nessa ocasião! E aí, me faltam as palavras de amor: e canto e danço e atuo e performo e bebo tua presença.

"Só a antropofagia nos une"


Dá-me uma preguiça de zica ruim lidar com moralismos e comedimentos, pisando em ovos e cheio de dedos para amar.

E o que é 'uma msg de amor'?

É só amor.
É só amor.

Agora despacha esse ebó, canta pra subir e segue adiante com dois passos pra frente e um pra trás. Paciente mente. Como num fúnebre ritual de axé, de santo.

Saindo de cena.

Se houver algum "atleta afetivo",
que faça alguma coisa:
ou mostre garra com os próprios desejos,
ou dome os próprios demônios,
ou morra de infarto,
por puro esporte.

E ponto final.
Por puro esporte.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012



Atado.
Impotente.
Mãos amarradas em cordas que ajudou a tecer
Murmura
Resmunga
Chora
Lamenta
Grita
Pede
Tenta lamber o leite derramado
                                                                                    Não  sabe explicar sua lógica
                                                                                    Mas amor não é questão de lógica nem de logística




Jogo novo





Não sei no que estou, mas sei que é grande
Um diabo abre as portas
-“Bem vindos! Aqui todos vocês serão curados”

Novilhas e sacrifícios
Não há fronteira
Toda partida deixa seu rastro
E a torcida deseja mais e mais

Alquimia 1



Como um fato, duro e rígido, sabia que teria por todo o sempre, Ausência e Saudade como companheiras, alianças de vida. Fato agudo, pontada no peito, dor de dente, queimor no espinhaço da costela.
Depois de muito protestar e brigar com as insistentes companheiras, manso e sonso passou a brincar  e conversar com elas.
Deu um tiro de escopeta na cabeça da saudade...
E foi fazer com Ausência graça, afim de não encher ninguém mais com o seu vazio. 

domingo, 9 de dezembro de 2012

Talhe?

Foi faca amolada
navalha acesa talhando a carne do tempo

Foi faca amolada
amolada e envenenada com o fel de dizer apenas para destruir
pra maldizer, pra provocar todo tipo de dor

Hoje...
Hoje é
Faca cega
Que já não corta mais,
Que já não causa dor,
Que já foi.
Já não é mais a mesma.
Já passou.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Belindeza

Passou numa leveza
como uma brisa
Com a delicadeza de uma flor - prova de quanto a natureza gera delicadezas.

Flor.
Belindeza.
Alegria, prova dos nove.
Nem tudo foi perdido.


Flor.
Belindeza.

Petálas tão finas, simplíssimas, limpidíssimas de um perfume e de uma fines encantadora.


Flor.
Belindeza.

Mexeu nos sentidos...
Misto de beleza, dor, langor, morbeza e destreza no modo como constitui o amor.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Carta Etílica- Brasa de Ouro

Old eight
Teachers
Bell's
Domec
Campari

Cuba, cuba libre!
Cuba Bacardi

Cuba, cuba libre!
Cuba Bacardi


Vodka
Não vote na presidenta!

Dê-me os copos!
Virem todos os copos.

Paratudo, para paratudo
(A música é interrompida pelos soluços do poeta embriagado)






quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sempre me falta

Ou me falta o sonho
ou deliro nas horas menos vãs do dia
ou sou o que me basta
ou me dá uma carência profunda
ou estou certo de mim
ou fico em dúvida atroz
ou vou longe, aconteço
ou fico pelos cantos choramingando migalhas
ou sou um bobo, macabéico
ou um Olímpio ímpio da vida
ou "sumo no sorvedouro"
ou não caibo mais em mim

"Oh! Pedaço de mim.
Oh, metade arrancada de mim."

sou isso

um pleno de vazios


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

CIDADE SOL



Município de Jequié, Bahia...
uma boceta arreganhada para o sol
"como posta de carne curtida no sal"
chaga aberta "vigiando o oco do tempo"
vagina quente e humida
xoxotaça orgasmática e miasmática de tesão e tédio
sol a pino
chuva que nunca precipita
valei-nos Nossa Senhora da Tigela Furada
dai-nos água para matar a sede infinita,
o amor para suplantar a mesquinhez encardida,
sagacidade para escapar às arapucas dos ressentidos,
e o tesão para que continuemos vivos
pulsantes.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Nenhum Título Coube

não vá se perder por aí não vá se perder por aí não vá se perder por aí não vá se perder não vá não vá se perder não vá não vá não vá perder não vá perder por não não não vá perder se aí por aí por aí por aí por aí não vá

ou vá pela sombra...


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Antídoto para a inércia de palidez burguesa cômoda e atoladeira

Movimentar.
Movimentar.
Movimentar.

Estouro

E quer saber do que mais...
Puta que pariu!
Que se foda.
Que se exploda.
Que porra, essa viu!?!
Caralho, cacete, buceta.
Caralhão armado.

Boomm!

Que não sobre um caco de vidro que conte história nenhuma sequer, quiça que revele os reais motivos da bomba com urânio enriquecido que acabei de acionar.

Estourei pra explodir.

sábado, 17 de novembro de 2012

Sobre primavera, presente e música



 
Uma duzia e meia de flores
Rompeu o tédio
E não eram rosas
Não eram cravos
Nem margaridas
Nem crisântemos
Uma coletânea recado
Acooooorda!!!!
Sou esfinge do amor
Decifra-me que te devoro

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O coro dos enjeitados

LARÓYÈ, Exu!Sarava Exús e Pombas Giras!
Laroie!
Mojiba!

O coro dos enjeitados,
dos descabidos, ou desvalidos,
Coro de desditos Korus,
"Coro dos indesejáveis das gentes".
Coro de inimigos!
Vozes do aquém...

Sai de retro!
Sai, uruca desabrida!

Hétero

Para Jean Wilis

Hetero?

Só se for heterogêneo.

Que as pedradas da pacatez burguesa da Veja,
Do discurso ariano de Roberto Guzzo, de Bolsonaro ou de Hitler
Sejam parâmetros do quão grave é a doença a qual a imbecilidade acomete um homem.

Pow! Pedrada!
Disseminação do preconceito!
Pow! Pedra! Pau!
Estimulação da violência!
Pow! Pau! Pau! Cacete!
Empobrecimento das gentes.
Farto! Caralho!

Cantando samba:
Viado de Ibirataia
morre em Jequié
na Rodoviária


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Questã

Vivo ou me espatifo?
Procurando chã
na minúcia sã
na filigrana vã
no seguir insano
para

Sob que máscara retornará?

Eis a Questã

Em Pandarecos

Um peito em pandarecos
em sal de frutas
numa lambança geral

No sangue que é de gasolina
acetaldeído, éter etílico, dimetílico e de petróleo, óxido de etileno, propano, acetona, etanol...
inflamo veias abertas, sensíveis, doiradas, desvairadas, 
veias sedentas por plasmar a vida
em vinho, festa, trabalho e pão.

Coração em pandarecos.
Lambança geral.
Arrumação.

domingo, 11 de novembro de 2012

Nutrindo

- Tava cum saudade?
- Cum vontade da presença (disse com um meio riso nos olhos)
- E matô?
- Alimentei. é tão bom.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

ALGARAVIAS

GALA
RAIVA
SAIA
LARGA
RAIA
VIA
SILVA
ALGA
RASGA
LIGA
SIGA
LAIA
GRAVA
LIRA
SILAS
LAIS
LAR
SALVIA
ASA
GAY
RIA
SALVA
SALIVA
SARA
SILAS
SAGA
AIAS
AIS
LIS
LISA
VILAS
SALA
RALA
VIRA
GAIA
GIL
WALY

domingo, 4 de novembro de 2012

Oficinando Acordes

Para Danielle Rosa pelo teatro vivo, pelo testemunhal rito de vida e arte, abertura dos caminhos para as entidades.

Dioniso reboja na arena dos sonhos, na máquina do delírio.
Atletas afetivos entoam ditirambos:

DIONISO: Música!
CORO: Evoé, aviadores!

Teatro não se explica.
Teatro é ato.

Santos Dummont passa arrabetador aos nossos olhos.
Aviadores!

Baracata, baracutum!
Cabrum!
Cabrum!

Alma palavra,
Palavra alma,
Há uma palavra.
Alma pra lavrar.

Eju! Antropófagos!

Mas comer o quê?
O desejo de comer constrói/compõe um homem.
Nem por isso o pão ficou mais barato.
Nem por isso a lagosta ficou mais barata.

- Rasga o travesseiro...
Joga a água fora...
- Ir de roldão como rebanho?
Não!

Coro de Multidão!
Aquele que diz sim, aquele que diz não!
A decisão.

"Pula boi, pula cavalo
pula cavalo e boi"

Dá mais ainda.
Não fica mais nada.

Como pode uma pessoa ajudar outra pessoa?!

Rebanho!
Repasto!
Ou é a prova dos nove
ou é neca de pitibiriba.

Morrer e devir...
dilacerado, estraçalhado,
esquartejado Sr. Schmitt.

Nota: não deixar-se ser levado de roldão.
Estamos acordes.
Oficinei acordes.

Terminar a celebração no alto do monte Parnaso.
Entre sátiros, heróis, deuses e semi-deuses.

Evoé!
Vida longa, Zé Andrade Salomão!
Segue e transforma a lei fundamental da vida.





quarta-feira, 31 de outubro de 2012

AR - Palavra delírio no ar

Fazer a palavra pegar delírio
Tornar-se acima e abaixo
e dos lados,
pelas frentes e pelos fundos
uma palavra gozo, uma palavra/alegria.

Giro surf.
Fazer a palavra girar... e girar... e uruibuir o verso todo.
Tonta a palavra desfolha, planta, fermenta, germina e salta aos borbotões ...
derramando-se pelas esquinas
como música
ou perfume
no ar.

Fazer a palavra pegar delírio no ar
Fazer a palavra pegar delírio on air
Fazer a palavra pegar delírio no ar
...
(repetir cinco mil vezes ao dia)

Tiro de AR singra o ar
TTTTTTTiroteio de metáforas
Tiro de AR singra o ar

E fingir que não vejo
meu vizinho empunhando a AR
Me - ten - do - co - mo - mi - ra!


Faróis no Mangue

Mangue
Polissemia, ambivalência
Mangue é palavra-mangue...
Palavra poesia
Jogar faz luzir
Luzir no mangue...
Luzir.

Faróis:
Oiticica, Torquato, Clark, Waly, Zé!



Mangue
Caldo imaginal, lama, monturo, caos
Mangue é palavra-mangue...
palavra acesa
Belezar faz luzir
Luzir no mangue...
Luzir.


Faróis:
Tom Zé Martinez, Mutantes, Caegiltano, Capinam!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Sobre os Limites da Performance



"Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais."




Brasil, 08 de outubro de 2012. Pedido/manifesto dos índios guarani-kaiowá, diante do despacho da Justiça Federal de Navirai - MS

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Já é


Esse tal 2012
E suas finitudes
E suas conclusões
E seu passar a limpo.

Esse tal 2012
De 10 mil acessos
e um beijo na boca

Sorte ser água
E não ser coluna
Parei de declarar fins
Tudo agora é caminhada
Um passo depois do outro.

Se já for, deu!

Comemorando 10 mil acessos e pensando a morte

Definitivamente não sou um mero declarador de rituais de passagem, de mortes ou de fins.
Mas e se for minha hora?
Foi.
Passou.
Já deu.

Chega!
Basta!
Porra!
Se já for, deu!

E que morrer...
"como derradeiro ato meu..."*
seja prenhe de leveza

que não seja de morte matada
que possa ser de morte morrida
na serenidade do além
do além então
nas brumas das eternidades

se me der na veneta eu vou
se me der na veneta eu mato
se me der na veneta eu morro
e volto pra curtir**

De padrão dórico, jônico ou coríntio,
a coluna grega não resistiu 
às pancadas romanas, 
às investidas cristãs, 
ao passar do tempo. 
Nem toda coluna resiste.***

... Parto silenciosamente.
Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego.
De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar.
Pra mim, chega!...****

* Gil
** Saillormoon
*** Amorim
**** Torquato
Quero é viver o agora - que já passou, 
já é outro agora. 
& outro & outro
& outra hora.
Até acabar.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

sábado, 13 de outubro de 2012

Sobre cinzas e sonhos

Haikai Marquês

Ensinou-me o mestre:

Não transformarei meus sonhos em cinzas...
Uso minhas cinzas para alcançar versos e sonhos...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Apontamentos para os Jogos Performativos

Nada é ultrapassado
Evoé às ultrapassagens...
"Só a antropofagia nos une"*

Dispositivos, princípios, disparadores. Procedimentos, procedimentos, procedimentos:
- Imagens na sala de ensaio, tecidos, objetos
- Contágio
- Estudo performativo
- Arquitetura em casa
- Imagens cegas

JOGOS PERFORMATIVOS
Aprender, Criar e Performar

Derrisão.

Derrubar tudo.
Construir ruínas de babel.

O ator como função, como atuador, sem amarras,

Poesia não tem hora, nem lugar, nem polidez para acontecer.

Exterior - Waly Salomão

"Por que a poesia tem que se confinar
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar em pleno grude
além da grade
do sol nascido quadrado?

Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada,
obediente filha da pauta?"**

* Oswald de Andrade
**Waly Salomão

domingo, 7 de outubro de 2012

Perambulação 01 - nas terras de Maria Degolada


Boardline, 07 de outubro de 2012
No entre, na fenda, na brecha.
Onde fulguram caminhos das águas.

Eu, uma BABALORIXÁ de Oxossi com Oxum deito cabeça na morada do sossego.

Porto Alegre.
Que cidade é essa?

Chega! Não serei eu a dedicar tempo pra poesia micha, medíocre, incréu de roteiro de viagem.
- Mas não resisto!

Céu de chumbo.
Banho de chuva.
As águas que não lavam o sertão, molham os pampas.
Sina a contradição.

Em Porto Alegre, cinza, a algazarra é comedida, polida, cheia de boas maneiras.
Sina a contradição.

Vento frio, que ulula sorrateiro na pele da gente..

Ivan Bender, Caio Fernando Abreu, Érico Veríssimo, Mário Quintana.
Elis Calcanhoto Gonçalves de Kleidir...

Vento frio, que ulula sorrateiro na pele da gente.

Crimes da rua do arvoredo.
Homem que mqtqvq gente pra fazer linguiça.
Maria Degolada.
Prostituta que virou santa.

Bons modos, polidez e boas maneiras...
O mistério do Guaíba, o parque da redenção.

Bons modos, polidez e boas maneiras...
Povo educado, culto, comunicativo.

Bons modos, polidez e boas maneiras...
Custo de vida baixo, pouca gente miserável nas ruas.

Bons modos, polidez e boas maneiras...

Basta de bons costumes de sorriso no rosto.
Cidade cinza.

Gaúcho é povo matreiro,
experimentado nas guerras de martelo, foice, facão
arma de todo tipo, bala de canhão, espada.
faca amolada

Queda do totem! O povo aflito derruba e degola o totem.
- Derrubaram o mascote da copa que a Coca colocou na praça!
- Privatização do espaço público. - dizem uns
- Quando uma empresa faz alguma coisa pela cidade o povo ainda reclama.
O povo se coloca, fala mesmo.

Povo branco, tez translúcida, herança do europeu.
Fala fina.

Pei! Pei! Bum! Kabrum!
Vixe.
Tiroteio em praça pública.
E nã era um tiroteio de metáforas. Tiro mesmo. Pei! De matar gente.

Gente correndo, chorando, tensa.
Comércio fechando portas.

- Vocês que são jovens, meus filhos, vejam no que nossa pseudo democracia se tornou: Medo! Tristeza.
Camelôs postos na rua por não recolher impostos.
Tensão.
Tiroteio.

Tiroteio em praça pública.
Gente correndo, chorando, tensa.
Comércio fechando portas.
- Ba, tchê! Quando eles roubam, prendem, quando eles trabalham atrapalham. Deixa os camelô trabalhar, pelo mesmo não tão roubando. - diz uma senhora passante.
- Capaz! Eu desde não sei quantos anos tenho essa minha lojinha e se tem uma coisa que eu faço é deixar meus encargos e impostos em dia. - replica uma comerciante da reunião.

O povo se coloca, fala mesmo.

Bombacha!
Booommm!
Que pensar de um povo que vive com arma branca pendurado ao cinturão de couro?

Moer a cana...
Tirar a gema...

The end.
Dia 12 de outubro.
Vôo TAM 3600 - 17:27
Evoé, POA!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Walydiando Maurices



Matemática
Física
Geometria
Régua
Ponteiro
Fração
Mecânica
Saindo de mim
Deixei de ser geômetra para ser amante
Abri janela escancarei  porta
Fiz-me  pedra,
 bicho,
planta,
humano
nada me sendo estranho
fiz deleite da
ação que exerce sobre mim o outro
fulano, sicrano, beltrano
uma pessoa que cruza meu caminho
e me obriga a reparar em sua presença
é fósforo que acende o fogo



(jogo e aproximação com a poesia "Olho de Lince" - Waly Salomão e a obra "Memória Coletiva" - Maurice Halbwachs)

Dialogo com Maurice*




Eco
O desencontro do meu desejo e a duração do tempo
É a uniformidade que nos pesa,
Considerar a vida e seus acontecimentos sob o aspecto da medida.
Disciplina coletiva, representação coletiva, encadeamento mecânico
Adição, subtração,multiplicação de continuidades
A multiplicidade do tempo só cabe na poesia

Se até os fenômenos astronômicos e físicos são sobrepostos ao julgo social,
Quem dirá eu!

Ser avaro com o tempo
E não perdê-lo
Tem  medida o tempo perdido?

E quem dirá que o mundo gira
Se a sanidade  repousa na estabilidade?

“o tempo não se escoa, ele dura”

"o tempo é aquilo que deve ser"





* livre interpretação, jogo e colagem com as ideias enunciadas por Maurice Halbwachs sobre o tempo.

Salomões 3 - Play List Live Saillormoon - ou Violada Salomônica

JOGO PERFORMATIVO: Play List Live Saillormoon - ou Violada Salomônica

Um homem, um violão descansando, três bancos. Na frente de cada banco repousa uma placa: "Teu Nome Mais Secreto"; "Minha Alegria"; "Mal Secreto". Na parede figura a placa: "Pague quanto quiser e faça seu pedido". A platéia pede. Um homem toca seu violão e volta a aguardar novo pedido.


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Salomões 2 - "Olho de Lince - ou Mumificação"

JOGO PERFORMATIVO: Olho de Lince - ou Mumificação

Um homem com fones de ouvido. Um homem com olhos de lince, touca de banho e gravata pede ajuda para alguém da platéia e faz acordos segredados. Um homem vai ao computador e aciona a faixa "Olho de Lince" - gravação do álbum "Real Grandeza" de Jards Macalé, enquanto o voluntário o mumifica com uma fita crepe. Um homem com olhos de lince, touca de banho e gravata e fones no ouvido e passa a recitar Olho de Lince.


Solomões 1 - "Amante da Algazarra ou Ganhando a Vida"

JOGO PERFORMATIVO: "Amante da Algazarra - ou Ganhando a Vida"

Um aviso ao público:
"Toque a sirene uma vez: Pedinte Açougueiro com câimbra nos braços;
Toque a sirene duas vezes: Não tenha Ódio no verão"

 Pedinte Açougueiro com câimbra nos braços

Um homem de cueca preta abre uma caixa preta e apanha uma touca preta. Veste. Ainda dentro da caixa, pega um punhado de moedas num pote. Um homem agita um punhado de moedas num recipiente. Mendiga:

- Kant, Schiller, Duflo, Huizinga, Caillois, Ryngaert, Bulhões, Soares, Teles, Spolin, Boal, Reverbel,

- Give me the book
Give me Lábia
Give me Tarifa de Embarque
Give me Qual é o Parangolé
Give me Me Segura que Eu vou dar um troço
Give me Mel do Melhor
Give me Pescados Vivos (póstumo)
Give me Gigolô de Bibelôs
Give me Armarinho de Miudezas
Give me Babilaques
Give me Algaravias

Não Tenha Ódio no verão

Um homem retira a touca e a guarda na caixa. Deixa os cabelos livres. apanha isqueiro, cigarro e óculos escuros. Um homem aciona, num notebook a música "Não tenha Ódio no Verão" do álbum "Lixo Lógico" (2012) de Tom Zé. Um homem dança. Deita-se. Acende o cigarro. Relaxa.



-

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Onomatopéias nossas de todos os dias

Um na rua.
Atarantado atentando ouvir todos os sons, histórias, ruídos e fonemas que conseguir.

Fom! Fom!
Bi-Bip!
Pocotó, pocotó!
Piu! Piu!
Parakatizum!
Miau!
Au!
Smack!
Iequetinguelê!
Bibip!
Splash!
Parassapenteu escuta cá!
Boom!
Pow!
Bem te vi!

Onomatopéias para serem comidas.

Em casa. "- Aff!". Alívio.

Finalmente o silêncio.

(Errata: breve silêncio)

Trim.
Pausa.
Trimm. Trimmm.
Toca o telefone.

Bip.
SMS.
"Fiz um cachorro quente hoje!
Quer comer?"


Bip.
SMS.
"Já viram o por-do-sol?
Lindo como nunca! Nossa, Jequié!"


Hahahahahahahaha.
Heuaheuaheuaheua.
Kkkkkkkkkkkk.

Zzzzzz

Trimmmmmmmmmmmmmm.
Desperta o ouvinte do sono,
o despertador.
Outro dia começa!

Carpe Diem.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Carandiru

Carandiru, 1972
Waly Dias Salomão
Preso por porte de maconha.

Prisão
templo de libertação

e tuas selas lotadas, sujas, imundas...
e o cheiro de crime, de sangue ou de morte...
e teus inocentes, tuas paredes frias de grutas ignotas...

A poesia libertou o homem da prisão
O lançou solto no espaço, noutro espaço, noutra dimensão...
no mar bravio e caótico da estética...
o Marujeiro da Lua.

Com seus sujos olhos vermelhos
o poeta fica parado, fica calado, fica quieto.
corre chora conversa
e com todo restante versa.

Outra vez preso,
agora ao próprio fardo de ser poeta,
o poeta foge de sua sombra e começa a peregrinação do devir e dos desvios.

Sailormoon:
Marujeiro mor capitão da Stultifera Navis tropicalista

Por dentro

Sentir a pele por dentro
e músculos e ossos,
e alma.

Ouvir o corpo todo por dentro e profundo.

Movimento.

Corpo é movimento
Corpo é jogo.

domingo, 30 de setembro de 2012

Haikai

três pontos e dois fins

lei do verso e reverso

Verso
Re-verso
Ré-verso

A poieisis do polimento
da repetição, da testagem,
das idas e vindas...

Deixar o poema dormir.
Acordar atordoado e se por diante do poema , em estado de jogo, poesia e estupor.
Repetir, repetir, até torna-se outro.

E jogar o poema fora

Dar a volta toda... completa... perspectivar...
Olhar de ângulos diversos o poema.

Criar.

Verso e reverso dos dias,
para dar inspiração à vida...
e sumir do e no caos.
Lei fundamental de quem escolheu fazer da vida uma busca estética...
lei de quem tem o poema como o modo de ser com e de estar no mundo

Verso, reverso e anverso.


Ré-verso


Re-verso

Verso


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

sábado, 22 de setembro de 2012

No Teatro

No teatro
Esperando o tempo do tempo passar

Um Duchamp no jardim da casa
Musica eletrônica soada pelos pássaros nas árvores
Corre-corre, pega-pega, agarra-agarra nas ruas de Salvador
Corrida destrambelhada de perambulação

No teatro
Esperando o oco do tempo

Um Salomão ecoa no peito
Musicalidade da placa "não jogue bitucas de cigarro!"
Corre-corre, pega-pega, agarra-agarra nas ruas de Salvador
Corrida sem sentido, corrida vã!

No teatro
Só o gozo interessa!


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Poema de Peso





um elefante torto e desajeitado
esbarra em tudo e tudo amassa













bobo e bruto
coração de algodão e patas de chumbo




um elefante mouco ou alienado
ignora ao descaso tudo e de tudo acha graça




bobo e bruto
coração de algodão e patas de chumbo




um elefante branco se ergueu no meio da cidade
Cal, cimento e pedra é tudo e contudo inútil e de nada

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

ora essa


A favela é objeto
O homem é objeto
A mãe com tripla jornada de trabalho é objeto
O fungo da casca da laranja é objeto
É também objeto a chuva que não cai
O numero de gotas de chuva que deveria ter caído
É objeto o corpo, a dobra da saia a madeira barata
A transposição do rio
É objeto o imaginário, a saudade e as construções de sentido

 (...)

Magnânimo
Coleciona de memória duas ou três dúzias de citações
E como um beré
infla seu ego catedrático
Marca pontos nos órgãos de financiamento
E brinda com as fatias de dinheiro publico
(...)
E ainda por cima deprecia meu pensar manuelês.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Quem?

A: Quem quer que seja.
Por onde quer que vá
Por onde se veja
Por onde quer que se esteja
Por tudo quanto se almejar
Vicejar,
Reluzir,
Ser gente.

B: Hein?

A: Não tem hein? Hein nhenhem!

B: Sim. Mas ser gente? Ser quem?

A: Quem quer que seja.
Por onde quer que se vá
Por onde se veja
Por onde quer que se esteja
Por tudo quanto se amejar
Vicejar,
Reluzir,
Ser gente.
Só.
Ponto.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

... veja os raios vai pelas entrelinhas moça vá pelas entrelinhas ... é que meus país são artistas interrompidos a sorte é que eles já se deram conta disso

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Será que caibo?

Crio.
Me lanço no difícil.
Me atiro no complexo.
Me arremesso no caos.

Será que caibo nesse poema?


Crio.
Me arremesso no vazio.
Me atiro de um prédio.
Me lanço no vão.

Será que caibo nesse poema?


domingo, 29 de julho de 2012

O tempo da delicadeza

E quando a poesia, ternamente, ferir muito e chegar ao osso...
Já não haverá mais nada...
Reinará absoluta a rima
O soberano soberano verso
Ou qualquer verso que ouse passar

E refeito na beleza o homem se refará.
VÊNUS NA CASA 12
uma dose de loucura pelo amor dos deuses
que não aguento mais ser tão comedida
fardo engrato da mediocridade
careço de desequilibrio
rasgar fora a pele
expor as viceras
vacilar pela loucura

sentir sentir
e que eu morra
mas morra inteira

eis aqui meu peito
eis aqui meu ser exposto
eis me aqui

(...)
ao menos temos o alcool
mas depois de amanha já é segunda

sexta-feira, 27 de julho de 2012

se toda vez que eu pensasse em vc acendesse uma estrela no céu a noite seria mais clara que o dia.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Sobre desaparecenças

Acredito muito nele
Na sua potência
No seu texto
E nos seus termos

Acredito em cada segundo
No quanto ele é
E em tudo que me deu
e me ensinou
e me deixou ser mais, e mais eu...

Sua grandeza inquestionável
E sua luz
seu perfume... seu rastro...
o seu tom
Sua magia em Jequié!
Ensolarados.

O encantamento de Aleck...
e a feitiçaria virtual de sua busca...
É objeto? Sujeito? Pesquisador? Pesquisado?
Quem é ele?
Um amigo...
Desaparecendo...
Não và!!!!!!!
Puf! Zaz! Zupt!
E jazz!
Lá se foi eternizado nas brumas da palavra. Outro indolente pra lista dos que deixam livros.
Eternizado por sua escrita...
Um procedimento.
Uma morte.

Um ente queer...
tropicalista...
e sertanejo...

Evoé!

Que ganhe o mundo!
Que te abram os caminhos.
Os que me escutam
e os que te guiam!

Poiesis

E em matéria de criação,
se há fiel da balança,
talvez seja esse,
o ser autêntico consigo mesmo.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Rebotalhos

E agora, que somos?

Ainda somos?

É um adeus? 

Uma partida?

Se em despedida 

eu puder cantar...

se eu tiver fólego e puder cantar...

descubro.

sábado, 7 de julho de 2012

Lua

Para Zé Miguel Wisnik

Hoje a lua é uma espadaAmanhã é uma lagoa

Amanhã some,
como num sopro,

Mudança. Mudança. Mudança.
Por que será que são tantas?

Lua,
sois una! Entre todos os sóis, sois una!

Lua,
dai potência de mudança ao mundo.
A todo mundo!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Desova de Dores Cadavéricas

Cadavéricas!
Oh, Marias, minhas dores!
Oh, Marias, minhas dores!
Dores velhas, dores cinzas, dores mortas.
Dores! Dores!



quarta-feira, 4 de julho de 2012

Dia de cão

E no dia em que sentirmos brincar com os sentimentos alheios,
com os sonhos dos outros... (Pausa. Silêncio)
já nada mais valerá a pena.
E eis que hoje, neste dia de chuva - sem haver sentido nenhum na vida -
apenas choro.

terça-feira, 3 de julho de 2012

feliz de quem chora e lê poemas
pior seria ter que ter sorriso fake, amarelo e ralo...
ou ter que fingir dor.




feliz de quem chora e escreve poemas
pior seria ter cara amarrada e fazer cálculos.

pra minha mulher que só é minha porque me dou a ela

amá-la ou não amá-la
é e não é escolha
amá-la e re-amá-la
amá-la
amá-la e saber que é uma chata
uma geniosa
e amar saber lidar com sua geniosidade
ama-la em raiz
ama-la e vê-la partir
ama-la e vê-la tecendo outros ninhos
ama-la e vê-la crescer
ama-la e não vê-la
amá-la apenas
amá-la e sonhar com ela todas as noites
e acordar e pensar: "que sonho mais sem jeito"
amá-la e não saber de nada
e não saber futuro
amá-la com o medo de estar fazendo tudo errado
e me manter longe
e duvidar se isso é o certo
amá-la e não saber
e ter no peito um medinho
e ter no peito uma esperança
e não ter mas peito
amá-la e amar a mim
e cuidar de mim
e fazer do meu jardim o mais florido
e sonhar com o dia de lhe dar flores.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Meu Pandeiro Iluminado

Era um pandeiro de coco.
Um desvairado pandeiro.
Um pandeiro perfumado.
Um perfumado pandeiro.

Era um pandeiro desvairado...
De um pandeirista de lambança,
Era um pandeiro iluminado...
Fé cega, festa e pardieiro.
Coisa mais absurda,
Pandeiro depois da compra
manter a etiqueta
de preço que outrora tinha.
Pandeiro num tem preço,
Num tem preço, nem etiqueta, nem tem também endereço.
No fundo todo pandeiro percute que é coisa do mundo.
Na desvairada pancada do mundo.
Na delicada patinela cintila.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Coisa de Fulô

Escorreu a palavra fulô
margarida branca
pleno perfume

Tempo, tempo, tempo

Faz a vida virar pétala por pétala - bem-me-quer, mal-me-quer!
Faz surgir botão
Faz brotar fulô


Escorreu a palavra fulô
girassóis de Van-Gogh
amarelo perfume


Tempo, tempo, tempo


Faz deflorar cada fulô de cara virada pro sol, pro céu
Faz surgir o amarelo de que gira em busca de sol e delicadezas
Faz brotar fulô

ÚLTIMO GOLE

Bebo este último Beckett...
Como quem grita,
como quem fode,
como quem lê.

terça-feira, 26 de junho de 2012



queria ter escrito a vida a lápis
mas me botaram um estilete nas mãos.

domingo, 24 de junho de 2012

Vermelho vivo


escolhi jorrar
ter meu ventre e minha alma lavados
ver escorrer um rio pelas minhas pernas
ser o próprio mar vermelho
me permitir esta purificação primitiva
suspendi o anticoncepcional e evitei frutas cítricas
desmarquei os compromissos
e gozei vermelho

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Não mexe, não.

Para Rere:

Não mexe comigo!
Ou desperto meu espírito vandalista...
Ou acordo meu espírito zombadeiro...

segunda-feira, 18 de junho de 2012

domingo, 17 de junho de 2012

triste pedagogia


Eu não o sabia.
Você entrou - e destruiu - móveis, pratos, copos, armários, gavetas e cofres. Entrou e me ensinou a ser sozinho.
Só.
Triste constatação.

Água e Óleo


Acabou sem nunca sabermos como seria se fosse como quis.
Sem nunca termos experimentado o que quis.
Perdemos.
Perdidos.
Vencidos fomos.

Como água e óleo.

Viramos passado.
Viramos silêncio.
Viramos lembrança.

Como água e óleo.

Toda gente fala à Macabéia apaixonada que nada escuta.
Ou Alice, ou Amélie, ou Didi, ou Carlitos...
Enfim. "É preciso cortar a própria pele, fazer a própria ferida." diz Macabéia.
Tola.

Como água e óleo.

Escorria.
Passava... passava... passou.
O último fôlego, você não viu.
Não viu, ou fingiu que não viu pois não quis ver.
"pois o amor é a coisa mais triste quando se desfaz"

domingo, 3 de junho de 2012

Só corro

Tudo certo, benzinho...
Só corro.
Tudo certo, benzinho, tá tudo bem.

Corro. Corro. Corro.
Corro o dia inteiro.
Mas socorro do meu tempo
aquilo que não é trabalho,
aquilo que não é papel,
aquilo que não é a burocrática realidade de todos os dias.
Socorro do meu tempo,
aquilo que me devora,
aquilo que me ilumina,
aquilo que me dá prazer.


Organizando o tempo.
Há tempo para tudo sem precisar correr?


Socorro com um gesto derramamento o tempo que não é para isso nem para aquilo,
para que seja tempo de prazer, leveza, perfume e graça.

De resto, benzinho.
Só corro.
Só corro.

domingo, 27 de maio de 2012

Aprendendo a dançar com deus

o importante é você sentir o balanço dele.

Meu amigo - nariz vermelho

Que pensar...
Reuniu todos, num esforço hercúleo, dantesco.
Armou o circo e botou fogo em pleno espetáculo...
e chamou a todos - pejorando - de palhaços apolíticos.
- Pura Palhaçaria!
É, mas só hoje, riu.
Salve salve a sabotagem
e a gente vai brincando 
achando que é mestre
qual nada
a gente só vai até onde o mister google diz poder

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Sexo Fácil



O telefone toca:

-Oi!
-Oi!
-Tá fazendo o quê?
-Nada.
- Topa fazer sacanagem comigo? Pode deixar que eu levo tudo que a gente vai precisar.
- Nossa!!! Simples assim?! Tudo bem. Que horas chega?
- Daqui a 20 min, tudo bem?
-Claro,claro, estarei pronta.

Vinte minutos depois, toca a campainha:

-Oi!
-Oi!
- Entre. Confesso que estou um pouco desconfortável, com essa praticidade.
- Oxente, desconfortável em me ajudar a preparar um prato de frios!???
-Ah?????


terça-feira, 8 de maio de 2012

Movedoxo


- Olá moça, como anda você?
- Tentando convencer meu coração do que minha cabeça já sabe.
- Que empreitada hen!
- Nem me fale.


segunda-feira, 7 de maio de 2012

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Campo Seco


"...Campo lindo ai qui tempo ruim
Tu sem chuva e a tristeza em mim
Peço a Deus a meu Deus grande Deus de Abrãao
Prá arrancar as pena do meu coração
Dessa terra sêca in ança e aflição..."

Ô Elomar, tomara que nosso Deus, grande Deus de Abraão, faça o céu desabar sobre nossas cabeças, assente a poeira, arribe nossos olhos e encharque o semblante que é de "in ança e aflição", pois sei que "todo bem é de Deus que vem", e eu to de jueio, prostrado diante do artá das penitências suplicando a Ele pra "amada trovoada chegar" fazendo o ribombo estralar nas alturas, o céu riscar em fogo e valente rufar, e a alegria toda do mundo todo se fará em mim, e "minh'alma vai florescer", as marrã "vai parí sem querer", sete casca vai soltar suas cascas como se muda de pele, as aruêra, no balanço do vento, vão roçar suas foias e cantar no regozijo da primavera, as Tatarena sestrosas vão alvoraçar e se debulhar em fulô marela, "marela u'a veis só Pra ela de u'a veis só" , e nós seremos um só brado de gratidão e louvor!

Oh Grande Deus de Abrão

"amanhã no amanhecer
tardã mais sei que vô ter

meu dia inda vai nascer..."

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Indulgência Poética

Sintamos os giros que esse mundo dá do jeito que der pra ser...


mas escuta, menina índia, mulher, amor:


não sinto ter traído vósmecê...


Fui eleito testemunha arbitrariamente por contexto ou por situação.


Deves imaginar o quanto eu queria não ter que presenciar certos fluxos da vida - que medra, que brota, que luz.


Mas eu estava ali, diante daquilo que era, ainda que eu quisesse ou não quisesse, em qualquer medida dos quereres que fossem, que fossem ou não fossem, não sei.

quinta-feira, 19 de abril de 2012





Forte foi Cristo
que ressuscitou três dias após os flagelos da paixão
eu venho demorando bem mais



Hoje o rio Indo
que tinha encontrado
caminho pelos meus olhos
cessou de jorrar

Encontrei Shiva
e toda vez que
as memórias do meu coração
me apertam os rins
visualizo o seu damaru

Vida é devir
Vida é devir.


amor é renuncia
paixão é egoismo
e tudo é visceral.


Terapia para abrandar coração partido e resolver conflitos



Será necessário:

  • Um banheiro bem sujo.
  • Músicas de Raul Seixas.
Metodologia:

Ao som (bem alto) de Raul lavar minunciosamente cada canto do banheiro. Esfregar, esfregar e não reter as lágrimas.

Desencontro




A - Meu tempo é agora!
P - Meu tempo é sempre.

Quero luz


perscrutar-me

acessar a lógica deste peito que não é cartesiano

compreender esta coisa toda

mas até lá
me guio pelo que sinto


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Um choro


Meu amor mandou dizer
Que eu descuidei e ela partiu
Fazer o que?
Que burra que sou
Não cuidei do meu bem querer
Ela arrumou outra que a cuidou

Hoje acordei num mundo triste
Onde meu amor tem um amor
e não sou eu
Não há mais porto seguro no mar turbulento
Não há mais horizonte a se sonhar
não há mais aquela lógica
de que nada irá nos separá.

Ô “Abril” porque me partiu assim?
passou por mim feito rolo compressor
Tinha de ter uma borracha então
Já que era pra se acabar
deixasse em branco 
meu coração


Os amigos me traíram
E ela é tão bonita e tão gostosa de se amar
Que duvido que essa outra
Dê como eu de vacilar.

domingo, 8 de abril de 2012

E o peito...

E o peito...
Arde.

No peito...
Arte.
Sem entediarte.8

E o peito encrosta
ganha capa dura


*Referência à música de Itamar Assumnpção

terça-feira, 20 de março de 2012

Nietzsche avisou: 
"Cada pessoa tem que escolher quanta verdade consegue suportar" ...
eu que não aguento nenhuma delas, não tenho escolhas, pareço carregar todas as dores, mentiras e verdades do mundo.
As minhas que já me esmagam , são lancinantes, de uma agudeza que elavam-nas em delírios
 as enxergo com os olhos pouco generosos; auto-piedade é coisa pra gente  rica e solitária.
E a mim, só cabe a felicidade alheia,
a tormenta de Camões,
 o "impulso primitivo para a morte" 
 o desejo pungente der ser e não querer ser...
Morro a cada dia após cada dor que pretende-se superada.

quarta-feira, 14 de março de 2012

14 de março

dizem que este dia 14
é o dia da poesia
mas logo ela
que me acompanha noite e dia
não apareceu
nem me deu trela.

domingo, 11 de março de 2012

A flor


Política é coisa que cresce dentro da gente.
Sonho, vontade e desejo de que o mundo brote em delicadezas.

Nos homens de bem,
há que pesar um solidário valor.
Não o juízo, o de ser bom ou o de ser mal,
senão a relação entre as suas ações e os seus discursos.

quinta-feira, 1 de março de 2012


Num tem moleza
pobre quando acha um ovo, é goro.
A gente não viu a cara da pobreza ainda.
A cara da pobreza é feia...pobre do pobre.

boa gente, porém pobre,
quando recebia carta, eram contas




-Pé de coelho?
-Não.
-Ferradura?
-Não.
-Trevo de quatro folhas? Dente de alho?
-Não, não!
-Mangalô? Olho grego? Fita do Senhor do Bonfim?
-Não e não.
-Então o que é? É mandinga?Simpatia?Qual a receita?
- Você deve ter ouvido falar que tem gente que nasceu com o cú virado pra lua?
-Sim!
- Pois, naquele caso, foi a lua que nasceu dentro dele.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Fragmentos de memória e montante de saudade. Para Mãe Lenita, com amor!




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Parece que foi anteontem o dia em que eu, já nos idos dos meus vinte anos, adentrei timidamente a residência daquela senhora de aparência frágil e andar vagaroso. A casa tinha o teto rebaixado, paredes caiadas de amarelo, portas e janelas de madeira, simples, porém não menos acolhedora e aconchegante.




Logo, na chegada, me apresentei, disse minha graça e o que me levava até ali. Fui breve, queria mesmo era fazer o ontem ser hoje, o agora, àquela hora...e fomos reviver, ela, o passado límpido de sua vida, e eu, o mundo que desejava habitar e que o tempo me era nada generoso.


Lá estava, na sala, dona Silvanira Freitas Gravatá, ou mais adequado para sua missão neste mundo: Mãe Lenita, sentada num sofá de encosto alto e macio, coberto por uma manta de retalho dos mais coloridos e estampados; o piso parecia ter sido lustrado pra noite de gala, para um baile ou para visita há muito esperada; Da estante de madeira torneada saltavam porta-retratos, eram as revelações primeiras - antes de uma palavra, sequer -, sobre quem são todos aqueles que figuravam naquelas fotografias. Tudo adequadamente em seu lugar, num esmero revelador.


Na ocasião, pesavam sobre seus ombros e pés (únicas partes do corpo que reclamavam algum incomodo) 90 anos, com margem de erro para alguns anos a mais. No tempo dos seus pais, registrar menino era luxo pra pouca gente, era dificultoso, carecia procurar cartório e testemunhas; quando era possível registrar, sendo isso alguns anos depois dos nascimentos das crianças, havia transcorrido tanto tempo que nem mesmo quem gerou guardava o ano da rebentação. Ficava o dito pelo não dito, e ia toda prole de cinco, oito ou mesmo dez meninos, com anos de diferença, registrar no mesmo dia. Daí a controvérsia entre ter nascido em 1915 ou em 1908.


Também estava na sala uma mulher bonita, garbosa, de pé, na soleira da porta, entre a sala, qual estávamos, e a cozinha, sempre a auxiliar mãe Lenita em suas incursões pelo passado, relembrando um fato ou colocando em sua boca as palavras encobertas pelas tramas do tempo. Mais pessoas ocupavam o ambiente das quais não me recordo muito bem, mas sei que estavam lá, ouvindo a tudo atentas e receptivas. Mesmo para elas, que conviviam com aquela senhora de muitas histórias, parecia-lhes estranho tantas perguntas e curiosidades de um menino imberbe que chegara como quem viesse buscar notícia de um ente que mora longe e pouco se comunica. Eram muitas as histórias a serem desfiadas naquela tarde quente de primavera.


Não me ative às controvérsias da idade, Isso pouco me interessava, bastava mesmo era sua memória estar viva, poder falar, ter paciência para tanta aporrinhação de um jovem conversador e cheio de curiosidades. E teve, como teve, me surpreendi com tamanha generosidade, riquezas de detalhes e parcimônia. Mansidão e cuidados que só as avós carregam sobre o semblante de labutas, mas também de realizações.


E falando em labutas e batentes, a vida não foi tão fácil para esta senhora negra e de origem humilde. Nascida em família de poucas posses e marcada pela dor da escravidão, aportara neste mundo pelas bandas de Maracás, ali permanecendo entre seus familiares por pouco tempo, logo fora levada para Amargosa e, de lá, para Areia, hoje, Ubaíra, ali o destino lhe reservava mais partidas, outros caminhos e outra família, sendo esta de patrões, o que não lhe tirava o mérito dos cuidados e da orientação. Através dela chegara às terras das cabrucas do cacau, por intermédio do senhor Patrício R. Teixeira e da senhora Edith C. Teixeira, pais de uma grande personalidade no Direito, na literatura e na política: Euclides Teixeira Neto, com quem cultivou duradoura amizade e compadrio.


Quando chegou pelas bandas de Tesoura estava aos 15 anos de idade, já experimentada pelas andanças entre Maracás, Amargosa e Areia. Morou, por pouco tempo, acompanhando a família Teixeira, em Barra do Rocha, mas logo retornando à Tesouras na expectativa de “fazer seu terreno” trilhando um percurso próprio. Criou asas, voou caçando jeito de dar rumo à sua própria vida.


E se fez independente, casou-se como senhor Uilson, constituiu família e aos 25 anos deu inicio à sua missão: ser parteira, dona das mãos que por seu intermédio vieram ao mundo 2.100 (dois mil e cem) meninos, gente que hoje campeia em nosso torrão, em São Paulo, Brasília, Rio de janeiro, Belém do Pará e até no exterior, como ela mesma dizia sobre seus rebentos de suor, devoção e aflição. São eles das mais variadas profissões: advogados, médicos, soldados, engenheiros, professores etc...ali desvendava-se o mistério de tantas fotografias ordenadamente dispostas em sua estante de madeira torneada. Também cozinhava, era dela o tempero mais requisitado nos lautos jantares na Loja maçônica e nas casas dos doutos donos de anéis e diplomas.


Exerceu durante muitos anos a função de enfermeira prática, acompanhando os doutores: Rito, Anísio, Nelson e Aristóteles, cabendo-lhe a função de parteira, mas sempre sabendo dos seus limites, “até onde dava pra eu ir, eu ia” disse-me afirmando suas limitações, já que não houve tempo para o estudo; a escola, sonho confessado nas horas de conversa, ficara aplacada na memória como prostrada num altar repleto de luzes e delírios, sonhos tolhidos para os que ainda hoje trazem na tez a força da África, e não da senzala, como insistem alguns tantos por ai. Mesmo faltando o diploma e o anel pra ornar-lhe o dedo, era ela quem fazia exemplarmente o que muitas vezes cabia aos médicos, e sem cobrar nada por isso, aliás, nunca cobrou por nenhum parto que fez!


Em seus cadernos de anotações, os que restaram após furto em sua residência, constavam os nomes de boa parte da gente que ajudou a nascer. Constavam também as datas dos nascimentos e outras informações julgadas como dignas de notas. Ela fez questão de me mostrar estes cadernos repletos de datas e nomes. Lembro que fui tomado por forte emoção, ali constavam nomes de muitas crianças, todas nascidas vivas e saudáveis por vossas mãos.


Perguntada sobre quais procedimentos eram usados para realização dos partos, ela respondeu: “Comigo era assim...eu tratava como se fosse o médico, viu, porque minha experiência era...vinha assim como uma intuição que eu tinha. Eu tinha uma intuição de fazer como fazia, eu mesmo não sabia como era, “num” era?...vinha aquela intuição então eu fazia...quando vinha a criança, quando a criança era homem, quando era “mulé” era “pêra” uma intuição que eu tinha, se fosse bom e se fosse ruim, eu tinha intuição, se fosse pra mim, se fosse pra o médico, eu tinha aquela intuição. Então, graças a Deus fui muito feliz durante os tempos que peguei “minino”, eu fui muito feliz, viu! Deus me protegeu, nunca teve nada nas minhas mãos, nunca aconteceu nada comigo, graças a Deus!”


E foi assim em todos os 2.100 (dois mil e cem) partos feitos por esta filha de Nanã e Ogum: pela intuição, pelo cuidado e amor ao próximo, pela sensibilidade e respeito à energia que entornava este ato sagrado. Nunca pôs em risco a vida dos bebês tampouco das parturientes.


Mulher de fibra, solidária, alegre e festeira. Nos carnavais antigos, aqueles que não voltam mais, cordão de caboclo igual ao seu não existia; ela reunia um grupo com homens, mulheres, crianças e, fantasiados de entidades das matas, serpenteavam pelas ruas da cidade, entoando músicas, lamentos, chulas e puluxias. Dançava, sambava, rodava, reverenciava as entidades indígenas e africanas, tudo com muita vivacidade, entusiasmo e respeito.


Seus carurus espalhavam gente por todos os cômodos da casa, indo parar até na rua. A casa era pequena pra tanta gente que ia se deliciar com seus quitutes e entoar os estribilhos da reza que antecipava a comilança. Em tempo de natal, seu presépio era a coisa mais linda de se ver, fazia questão de reservar o primeiro quarto da casa para sua montagem. Era imponente, primoroso, uma montanha de onde se equilibravam imagens sagradas e outras nem tanto, mas que cumpriam com a função de referência e devoção. Chegou um tempo que o conservava impecável o ano inteiro, ela resolveu, por motivos que não me ficou totalmente esclarecido, não desmontá-lo. Só sei que este presépio possuía uma função de altar de penitências, reverências e dedicação ao culto sagrado do menino Jesus e das suas entidades mágicas.


E os partos, as festas: Cordão de Caboclo, caruru, presépio/altar... tudo isso foi se perdendo no tempo com a idade avançando e o corpo pedindo repouso, decerto que muita coisa ainda permanece viva, como tudo que até agora relatei e que jamais morrerá, porque enquanto houver história, memória e palavra, existirá a vida dessa grande mulher que há pouco nos deixou.


Partiu quase no esquecimento de uma cidade inteira, já que não morava mais pelas bandas de Ibirataia (e mesmo quando por lá morava as visitas eram poucas), pois precisou ausentar-se da cidade que lhe fez mulher e mãe de vasta prole; ali, na pequena cidade incrustada entre dois rios e altos morros cobertos do que de mata restou, não havia quem lhe reservasse o cuidado e dedicação; fora morar em Eunapólis aos cuidados de parentes e lá subiu aos céus, tranquila, como todos os justos e bons de coração. A vida lhe foi generosa, não lhe dera riquezas materiais, mas lhe deu dois mil e cem filhos, dignidade e vida longa (104 anos).


Hoje, tomado pelo saudosismo e tristeza trazidos pela notícia de sua ausência eterna, rabisco essas breves linhas como um neto que dedica seus poemas à avó e, talvez, as palavras, quaisquer que sejam elas de amor ou gratidão, não sejam capazes de dizer o que realmente senti ao me deparar com aquele ser de aparência frágil e de alma e coração gigantes. Mas é preciso partir do princípio das palavras para compartilhar com você, leitor, o meu encontro com ela, e que as mesmas não podem dizer com precisão e olhos marejados, mas servirão como canal de contato e aproximação!




Mãe Lenita, que Olorum te guie e proteja sempre. Axé!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Ainda é cedo

Espera um pouco, benzinho! Ainda é cedo!
Espera um tico, benzinho! Um pouco mais!
Espera a hora, benzinho, a boa hora!
Espera na ciranda da espera que não acaba nunca mais!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Não quero TV

Não quero TV!
Não quero TV!
Não quero!

Eu quero poder!
Eu quero poder!
Eu quero poder descansar!

Me deixa te ver!
Me deixa te ver!
Dançando.

Dançando sem som,
o som de quem soa,
sem saber soar.

Sem saber soar!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Acerca das Intensidades

Se você não é capaz de ser intenso, de ser inteiro...
Se você não pode se permitir colocar o amor na frente...
é porque a ribalta apagou, a cortina fechou, a platéia sumiu, e você ficou sozinho olhando, do bastidor, o teatro vazio.

- O espetáculo já acabou! Você não viu! Deixou escapar a deixa. Quem sabe na próxima temporada?!.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Para deixar satisfeito: "Serei perjuro"

Quer que eu jure?
É isso? É só isso?
Tá certo, eu juro.
Pronto, eu juro.
Acabou?

O "H" do Mundo


Hoje eu acordei com um nó cego na garganta.
Com os olhos marejados sufoquei uma dor fina, aguda, com os soluços e os espasmos que o medo do choque com o mundo novo provoca.
E não é só porque sofro assim que quero me matar, é também porque o mundo está uma merda e para todo lado para o qual se olhe só se vê devastação.
É isso. Devastado é como se sente meu peito.
Que vontade niilista de explodir tudo e começar do zero, ou de nem recomeçar.
Que vontade grande de dizer umas verdades, de mostrar minha versão de tudo e pintar o mundo de monstro. O mundo é um monstro sereno, atencioso, educado, bondoso, que à todos cativa. Mas eu cansei e não caio mais nessa falácia, nessa embromação.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

E quanto aos senhores policiais?





Foi bastante curioso observar como a polícia lidou com os mesmos ataques que a sociedade civil lida sempre que se engaja numa ação contestadora ao Estado

Opressão social; o ataque da contra-informação lançado pela mídia a fim de marginalizar o movimento diante da opinião pública, amedrontar os militantes e confundir as ações do movimento; a opressão armada das forças militares; a coação legalista com ameaças de prisão e por fim o corte de salário e a ameaça de exoneração; são armas há muito tempo usadas pelos agentes do poder  independente do rótulo partidário que estejam usando.

Bem vindos! Vocês que achavam que o titio Estado manteria relações amistosas com vocês –afinal sois seu braço armado- viram a truculência, as ações discricionárias e a força de opressão que os agentes do poder são capazes de lançar contra qualquer um que os conteste.

E olhe que suas reivindicações eram estritamente de interesse de sua categoria, reivindicações conciliatórias e meramente salariais  que em nada questionavam suas condições de trabalho e os moldes de sua intervenção na sociedade.   

As conquistas de uma mobilização estão para além dos acordos e gratificações que os militantes recebem como cala a boca. Talvez a maior conquista desta greve, senhores, foi  demonstrar a todos o tamanho da força política desta categoria. Que outra categoria em greve conseguiria a paralisação e imobilidade social que conseguiu a polícia militar da Bahia? Quem mais conseguiria este feitio?


Não ficamos inseguros - a polícia nunca nos foi nenhuma garantia de segurança, sejamos honestos -, sentia-mo-nos indefesos, o que é diferente. Em nome da "indefesidão" fizeram-se especulações,arrastões, assaltos, roubos, latrocínios, homicídios e crimes de toda ordem. Houve até quem sempre tendo mantido regime de retidão e obediência a lei se aproveitou da "indefesidão" para burlar a lei um tantinho, se aproveitando do caos de Salvador para tirar proveito de um ou outro eletrodoméstico que, com pressa e descuido, um arrombador de comércio tivesse deixado perder-se no caminho de casa ou até mesmo dentro das próprias lojas. De outro modo: é o caso de dizermos tratar-se de um cidadão transformado em ladrão, ou de um cidadão que com o caos instaurado apenas momentaneamente ladronizou-se? Ou mera oportunidade de  (que mesmo sem consciência disso) um cidadão – trabalhador-operário – ambulante – biscateiro  tomou para si aquilo que é seu e lhe é negado. Não serei eu a julgá-lo e fica aí  a questão.


E num caminho tortuoso, como a desta greve da PM BA, perdem-se às vezes, também, as estribeiras.

Muitos dos efeitos da mobilização dos senhores policiais se fizeram sentir logo de imediato:  Lojas comerciais e bancos fechados (afinal todos sabemos que é a estes que a instituição em que os senhores trabalham realmente protegem), ônibus paralisados, sentimento geral de insegurança, reação agressiva do Estado e... medo.

Medo.
 
Uma sensação que dá nas vísceras de qualquer ser humano. Um sentimento coletivo que cresceu, tornou-se pânico, pavor e morte.

Uma mobilização de uma corporação politicamente alienada, desorganizada e assumidamente reacionária. Uma mobilização completamente ilegal ( para não esquecer que o Estado Brasileiro vem se especializando em tornar crime mobilizações e contestações), com causas absolutamente legítimas, mas que fere um acordo social que está associado à manutenção da paz e do bem. Cruel encruzilhada de exus frondosos no pensamento de quem, distante, ainda que fosse na Bahia, mas refugiado em casa, atentamente observava.

X: Eita que este caminho de greve da classe policial podia desdobrar-se num golpe do destino, num revés.

Y: Já pensou se o povo, se a gente toda encontrasse um modo de se defender, assim, mutuamente, sem carecer depender?... depender?... ser dependente? Já imaginou uma segurança sem polícia, uma segurança da gentileza e da liberdade?

X: Mas como? Porquê estes manifestantes tiveram uma mobilização show business, enquanto outras classes tem intervenções fantasmas?

Y: Porque estes manifestantes carregam armas, armas legalmente portadas.

X: Poder. Um poder que tem uma origem simples: uma arma. O manifestante grita, milita, brada, reclama. O manifestante discursa, reflete, analisa rigorosamente sua prática, identifica lacunas e as transforma em propostas para o Estado. O manifestante faz greve. Tragédia, terror, caos. O manifestante, de um estado, mobiliza a imprensa do país inteiro. Mais. O manifestante mobiliza a imprensa internacional - que diga-se de passagem faz o que quer com a informação que colhe das ações do manifestante. Um estupor. Foi isso que causou, na população, o manifestante.

Y: Enquanto isso, eu, refugiado em casa, aproveitava para fazer o exercício do cuidado de si. Enquanto isso, lia a entrevista da primeira dama da Bahia para a FOLHA DE SÃO PAULO, em plena vigência greve da PM BA, revelando seus planos que pretendiam proporcionar a ela e seu esposo, o governador da Bahia, dois dias de carnaval no sambódromo do Rio de Janeiro, conferindo o desfile da Portela - que este ano homenageia a Bahia - e de outra escola de samba que terá Jorge Amado como motivo carnavalesco. Ironica contradição instituída.

X e Y: (sussurra) Mas eu cá, cultivadora de utopias que sou, espero que a médio prazo esta Greve venha a provocar  um amadurecimento político em vocês,  no trato com militantes de outras categorias que assim como vós  optam por greves, ocupação de prédios públicos e passeatas como instrumentos de luta.

UMA MENININHA SEM LETRA: (cantando) Instrumentos de luta!

X: (perguntando como um X qualquer) Como será que, a partir de agora, a polícia militar da Bahia se comportará nas rotineiras investidas em segurança que fazem em manifestações grevistas - suicidas - de outras corporações ou classes? Eis a questão. Aguardemos vigilantes e atentos.